Há mais de quatro décadas, o mundo enfrentou o desafio de uma nova epidemia: a AIDS, causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Desde então, a pesquisa clínica tem sido crucial na transformação dessa doença de uma sentença de morte para uma condição gerenciável. A Dra. Greyce Lousana, que é referência em pesquisa clínica no Brasil, esteve na liderança da condução de ensaios clínicos éticos e inovadores desde o princípio. “Vimos muitos pacientes morrerem, outros sem esperança de seguir em frente, e, hoje, celebramos uma grande conquista com os avanços científicos”, relembra a especialista, que também é presidente executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica e Diretora Presidente da Invitare.

A Dra. Greyce tem liderado esforços para garantir que o Brasil continue na vanguarda dos avanços terapêuticos. Com uma carreira pautada por ética e excelência, ela comenta: “Os estudos clínicos do HIV abriram as portas não só para o cuidado com os pacientes, mas também com seus familiares”.

Nos anos 90, a descoberta da doença, marcada em 20 de maio, mobilizando comunidades científicas, governos e a sociedade civil em uma verdadeira corrida pela vida. Do isolamento do vírus ao desenvolvimento das primeiras terapias, a resposta global só foi possível graças à pesquisa clínica, processo essencial de investigação, testagem e validação científica que transforma hipóteses em tratamentos reais.

“A partir de 1990, quando o surgimento de novas classes de medicamentos, como os inibidores de protease, possibilitou o controle da viremia e transformou a AIDS de uma doença fatal em condição crônica controlável, os ensaios clínicos se tornaram ainda mais estratégicos. Tive a oportunidade de atuar diretamente na coordenação de estudos que ajudaram a validar tratamentos cada vez mais eficazes, seguros e acessíveis para os pacientes”, comenta a Dra. Greyce.

A especialista e presidente executiva da SBPPC tem contribuído de forma decisiva para a estruturação de um ambiente regulatório e científico que permita a condução ética, eficiente e transparente de ensaios clínicos em território nacional. “Por meio da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica, temos promovido o diálogo entre pesquisadores, centros de pesquisa, comitês de ética e autoridades regulatórias, sempre com foco na valorização do profissional de pesquisa e na segurança dos participantes dos estudos”, acrescenta a professora.

Pela Invitare, ela atua no desenvolvimento de soluções em educação, compliance e suporte técnico especializado para organizações envolvidas em pesquisa clínica, fomentando uma cultura de excelência e integridade científica. Em áreas como HIV/AIDS, nas quais os avanços terapêuticos continuam em ritmo acelerado. “O fortalecimento dessa base é indispensável para que o Brasil permaneça na vanguarda da inovação e do acesso à saúde”, enfatiza a Dra. Greyce.

Dados recentes do Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS de 2024, divulgados pelo Ministério da Saúde, revelam um aumento na capacidade de diagnóstico e a menor taxa de mortalidade desde 2013. O uso expandido da profilaxia pré-exposição (PrEP) e um aumento de 100% no número de usuários refletem o compromisso contínuo com a saúde pública.

Tabu: estudo inédito revela medo de exposição em família e no trabalho

Segundo estudo inédito divulgado neste mês de maio, Índice de Estigma 2024, mais da metade das pessoas vivendo com HIV no Brasil já sofreu algum tipo de discriminação ao longo da vida em razão de sua sorologia. A pesquisa realizada em sete capitais brasileiras – Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Salvador, Recife, Brasília e Porto Alegre- pela Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV (RNP+), com apoio do UNAIDS, Fiocruz e Ministério da Saúde, dos 1.275 entrevistados, 52,9% relataram ao menos um episódio de preconceito ou exclusão.

Além disso, 38,8% dos entrevistados afirmaram ter sido alvo de fofocas ou comentários discriminatórios vindos de pessoas de fora do convívio familiar, enquanto 34,8% sofreram episódios semelhantes dentro de casa. Violência física foi apontada por 7,4% e assédio sexual, por 6%. No campo da saúde mental, 68,4% apresentaram sintomas de ansiedade ou depressão, sendo que 41,2% chegaram a ser diagnosticados com ansiedade e 29,1% com depressão.

As barreiras no acesso à testagem e ao tratamento também são preocupantes. Cerca de 50% atrasaram o início do tratamento por medo do preconceito. A confidencialidade dos prontuários médicos está em xeque para 46,1% dos entrevistados e 18,7% deixaram de tomar doses de antirretrovirais para não correrem o risco de terem sua sorologia revelada. “Esse cenário impacta também na pesquisa clínica e a evolução dos estudos dos tratamentos”, comenta a Dra. Greyce, presidente executiva da SBPPC.

Para a especialista em pesquisa clínica, esses resultados reforçam a urgência de políticas públicas antirracistas e LGBTIA+. “iniciativas de combate à desinformação e capacitação profissionais de saúde são fundamentais para assegurar que emergências sanitárias e ambientais não impactem a saúde e o bem-estar das pessoas”, complementa a Dra. Greyce. Seu legado é profundamente entrelaçado com o progresso da pesquisa clínica no país, descobertas científicas, capacitação profissional, implantação de processos e ética que sustentam o verdadeiro impacto da ciência na vida das pessoas.