“Isso é vinho de mulher”. Essa é uma frase que ainda circula por aí, e mesmo que não seja diretamente afirmado, tende a estar relacionada à ideia de que os vinhos apreciados por homens são diferentes. De forma branda, em determinados contextos, a expressão é aplicada para dizer que os vinhos que agradam paladares femininos não são bons. “Possivelmente essa afirmação está mais relacionada a alguns mitos do que ao líquido engarrafado em si. A grande verdade é que as mulheres são consumidoras em potencial e devem ser valorizadas pelo mercado de vinhos”, comenta Thamirys Schneider, sommelière da Wine, maior clube de assinatura de vinhos do mundo e líder no ranking de importação.

As mulheres consomem vinhos dos mais variados tipos e a pesquisa “Male and Female Wine Drinkers – Are They Really That Different?”, realizada pela Wine Business, indica que, estatisticamente, o mercado consumidor de vinho dos EUA é formado aproximadamente por 55% do público feminino e 45% masculino. Além disso, o estudo mostra que, para ambos públicos, os vinhos tintos varietais favoritos são das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot. Já o varietal branco favorito costuma ser o da uva Chardonnay. Os dados norte-americanos ainda mostram que homens e mulheres preferem vinhos tintos aos branco, mesmo que as mulheres do país consumam mais a uva White Zinfandel. Ou seja, elas apenas diversificam mais  suas escolhas e estão sempre dispostas a conhecer diferentes estilos de vinhos.

O portal Bucks County Herald revelou, em “On Wine: Men, Women, and Wine”, que 49% do mercado do vinho na Austrália é composto por mulheres. Já o informativo Equal, sometimes different, divulgado pelo portal Wine Intelligence com dados de seis mercados-chave para o vinho (Austrália, Canadá, China, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), que, juntos, representam cerca de 230 milhões de consumidores de vinhos, indica que o mercado consumidor fica praticamente  dividido em 50% para os homens e 50% para as mulheres, e ainda mostra que homens e mulheres bebem a mesma quantidade média de vinho.

Por outro lado, o estudo da Wine Intelligence mostra que ambos perfis de consumidores têm níveis semelhantes de conhecimento sobre vinho, embora homens falem com mais confiança sobre o assunto. “Nota-se que não se trata sobre ter conhecimento ou não, até porque está confirmado que mulheres sabem tanto quanto os homens sobre o tema. É algo que tange ao cultural, onde homens se sentem mais confortáveis a compartilhar suas opiniões do que mulheres”, observa Thamirys. Em um contexto global geral, o estudo indica que mulheres estão muito mais dispostas a conhecer propostas de vinhos diferenciadas, como é o caso dos vinhos orgânicos ou os de produção sustentável, e levanta também evidências de que as mulheres são mais propensas a comprar vinhos elaborados por enólogas.

Por outro lado, a Wine Business na pesquisa “Male and Female Wine Drinkers – Are They Really That Different?” ressalta que, além das questões técnicas, o consumo do vinho por mulheres é guiado por motivação social e descontração, enquanto o de  homens tende a estar relacionado a momentos mais pragmáticos e cerimoniosos.

Em outras palavras, as mulheres bebem vinhos, entendem sobre vinho, diversificam o seu consumo e estão mais dispostas a conhecer e comprar diferentes estilos de vinhos. Logo, não existe “vinho de homem” e “vinho de mulher”, existe uma infinidade de vinhos e um vasto mercado consumidor.

“Mulheres bebem vinho, independente de qual seja, e participam ativamente enquanto mercado consumidor. Limitar um estilo de vinho para as mulheres é limitar a expansão do mercado, é invisibilizar um expressivo número de pessoas dispostas a consumir,  diversificar e socializar essa bebida tão diversa. Mulheres, ergam suas taças!”, conclui a sommelière.