O samba friburguense perde Carrasco, um dos grandes mestre-salas da história do Carnaval
Morreu nesta segunda-feira, 13, Antônio de Oliveira Pacheco, o Carrasco, um dos ícones do carnaval friburguense, discípulo e aluno do mestre-sala Delegado da Mangueira, ex-jogador de futebol e dedicado diretor da Ala da Velha Guarda da Unidos da Saudade.
Nascido em Nova Friburgo, no bairro de Olaria, Antonio de Oliveira Pacheco, o Carrasco, ganhou o apelido no futebol. Ele foi do Serrano infantil no primeiro quadro, foi do Filó, Esperança, Esporte Clube Saudade, Santa Luzia, e chegou a jogar no Rio de Janeiro como quarto zagueiro, hoje cabeça de área.
Morou 22 anos no Rio de Janeiro, em Padre Miguel, e ganhou o apelido de Carrasco porque dividia muito duro no jogo, “o zagueiro não pode dar espaço ao atacante, se o atacante domina e parte pra cima, ele toma a melhor.”Dizia.
Em Padre Miguel conviveu por muitos anos com pessoas ligadas ao samba, teve muitos amigos grandes interpretes do carnaval carioca, conheceu muitos mestre-salas. Espectador dos que fizeram história no carnaval carioca, o jovem desportista se encantou com os bambas, com o jeito de levitarem em torno da porta-bandeira, com a ginga e o traquejo com que dançavam e quando voltou para Friburgo, saiu pela primeira vez na Acadêmicos das Braunes, em 1972, quando conquistaram o primeiro titulo da escola.
Foi mestre-sala das Braunes ao lado da porta-bandeira Maria Aparecida, a Pintinha, e, em1974, foi para a Unidos da Saudade. Mas também marcou terreno na Imperatriz de Olaria. “Não como mestre-sala, mas apresentando a escola.” Disse Carrasco, um dos fundadores da Imperatriz de Olaria.
Colecionador de notas 10, quando o cantor Jorge Veiga foi um dos jurados aqui de Nova Friburgo, na década de 1970, deixou escrito na planilha de julgamento um bilhete justificativa dizendo que “Carrasco era mestre-sala para desfilar no carnaval do Rio de Janeiro”.
E foi um mestre- sala famoso que o incentivou. Hélio Laurindo da Silva – o Delegado, da Mangueira, quando aqui esteve, por várias vezes, ao lado da mítica Mocinha, sua fiel porta-bandeira, num encontro informal com Carrasco acabou dando-lhe algumas dicas e citou o seu nome, certa vez, como uma das referências de talento e brilhantismo como dançarino fora do Rio de Janeiro.
“Como é mesmo o nome daqueles emcapuzados que ajudavam a enforcar os outros?” Perguntou Delegado. E ao ouvir a resposta “Carrasco”, emendou “isso mesmo. Acha que é só no Rio que existem bons mestre-salas? Eu achei que estava ensinando a esse garoto e eu estava era aprendendo. Aquele era um grande mestre-sala!” falou Delegado sobre o dançarino friburguense.
Carrasco sempre foi reconhecido por sua elegância. Seus ternos e casacas eram especialmente confeccionados pelo alfaiate Albertine, na Rua General Osório, próximo ao Hospital Raul Sertã e seus sapatos eram encomendados na Rex, sempre brancos em pelica ou perlê, peles mais macias e com solado de couro para deslizar na avenida.
Nunca desfilou fantasiado em excesso, chegou a usar a peruca branca que marcou o traje de mestre-sala nos anos de 1970, impecavelmente penteada, e dizia ironicamente: “antigamente o samba era coisa de bandido, hoje é cultura.” Certeiro em suas críticas, afirmava que o samba não é mais aquele samba antigo, hoje o samba é muito corrido, a melodia é completamente diferente. E que isso, talvez, prejudique a dança dos mestre-salas.
Carrasco deixa uma linda história. Amigo querido deste colunista e artista transbordante, riscava poesia na avenida ao bailar em torno da porta-bandeira. Ficará eternizada na memória dos apaixonados pela folia a atávica elegância de quem cruzou a vida de cabeça erguida e lutando pela dignidade da Velha Guarda, da qual fazia parte. Siga na luz, amigo!