Mulheres do mundo do vinho compartilham histórias e opiniões sobre a participação feminina nesta indústria
A presença das mulheres na indústria do vinho vem crescendo a cada ano e não apenas a história da famosa Madame Clicquot se torna exemplo e inspiração, como a de tantas outras. Neste 8 de março, para destacar o Dia Internacional da Mulher, a Cantu Grupo Wine, a casa das grandes marcas, convidou quatro renomadas mulheres do mundo do vinho para contar suas histórias e opiniões sobre a crescente participação feminina na indústria vinícola.
Maria José Andrade Lopes, Gerente de Marketing da vinícola portuguesa Casa Relvas, conta que no início da sua carreira, a maior dificuldade foi enfrentar um ambiente de trabalho diário com uma equipe de vendas majoritariamente do sexo masculino. “Todos eram mais velhos que eu e achavam que eu não sabia nada sobre vinhos ou que não iria acrescentar em nada. Estavam muito enganados e eu tive que provar não só que eu poderia aprender muito com eles, como eles também poderiam aprender comigo, com as minhas novas ideias e diferentes formas de trabalhar. No final, foi uma experiência muito positiva e até hoje enfrento alguns obstáculos pelo caminho que ultrapasso com confiança e motivação para atingir os meus objetivos”, diz Maria.
Para ela, as mulheres que querem seguir carreira na indústria do vinho precisam ser resilientes e, principalmente, pacientes. “Trate os outros e a sua equipe como gostaria de ser tratada sempre, independentemente de ser mulher ou homem. Aproveite todas as características das pessoas que a rodeiam. Nunca estagne, esteja sempre pronta a aprender e evoluir”.
Maria comenta também sobre características femininas perfeitas para atuar com vinho. “A mulher tem mais empatia e sensibilidade sensorial, o que pode ser uma vantagem ao avaliar aromas, sabores e texturas dos vinhos. Além disso, nós, mulheres, somos menos resistentes à mudança. Acho que nos adaptamos melhor e estamos mais abertas a aceitar ideias novas, arriscamos mais. O mundo dos vinhos está sempre evoluindo e é importante acompanhar as novas tendências”, destaca.
Outra mulher que vem se destacando no mundo do vinho é Amandine Castillon, Country Manager Brazil da Calvet. Ela cita as principais habilidades que as mulheres possuem e são ótimas para quem atua com vinho. “Uma qualidade que eu acredito que nós, mulheres, temos é a capacidade de liderar de maneira colaborativa, crucial na indústria do vinho, onde equipes diversas precisam trabalhar em conjunto. Mulheres, muitas vezes, são adeptas da liderança participativa e inclusiva”, ressalta.
Amandine aponta também que mulheres no mundo do vinho desafiam padrões e estereótipos, destacando-se como líderes, enólogas e empreendedoras. “A determinação de uma mulher para superar barreiras contribui não apenas para a inovação no setor, mas também para a quebra de padrões de gênero, promovendo um ambiente mais inclusivo e equitativo. As mulheres não apenas produzem vinhos excepcionais, mas também desempenham um papel crucial na transformação da cultura do vinho, criando um espaço mais diversificado e empoderado”.
A representante da Calvet deixa algumas dicas valiosas para quem quer seguir carreira com vinho. “Primeiro, acredite em sua paixão, cultive a confiança em sua paixão pelo vinho. Sua motivação e entusiasmo pelo setor serão fundamentais para superar desafios. Também é importante que busque conhecimento contínuo. Invista em sua educação e conhecimento sobre enologia, viticultura e aspectos comerciais do vinho. Esteja sempre aberta a aprender e se atualizar sobre as últimas tendências e práticas da indústria. Seja resiliente diante dos desafios, antecipe-se a eles e esteja preparada para superá-los com resiliência. Por fim, mantenha-se fiel a si mesma. Em um campo muitas vezes dominado por tradições, manter sua autenticidade e singularidade é uma vantagem valiosa”, finaliza Amandine.
A terceira figura feminina que compartilha sua opinião sobre mulheres no mundo do vinho é Fabiana Bracco, embaixadora do vinho no Uruguai e proprietária da vinícola BraccoBosca. Segundo ela, as mulheres têm muitas habilidades que se encaixam perfeitamente bem neste ramo. “Fatores como a criatividade, adaptação e sensibilidade, que une a pessoa com a natureza, são fundamentais. Além disso, a facilidade de comunicação e trabalho em equipe também determinam nosso sucesso, sem falar da inteligência emocional que nos permite resolver facilmente os problemas”, afirma.
Ao ser questionada sobre a determinação das mulheres para superar obstáculos, ela diz: “em várias instâncias, temos que superar os preconceitos estabelecidos e, às vezes, nos esforçar o dobro para poder chegar nos mesmos objetivos. Nossa capacidade e determinação é que nos permitem o progresso e inovar. Em nosso caso, em BraccoBosca, conseguimos trazer uvas de menos prestígio, mas que tinham uma conexão com nosso passado, como a Moscatel, e através da inovação produzimos um vinho seco e diferente do que o consumidor está acostumado. No início, nos disseram que seria impossível, pelo fato das mulheres gostarem de vinhos doces e, hoje, a maioria de nossos consumidores para esse vinho são homens. Nosso Moscatel ficou entre os melhores brancos do Sul da América”, revela.
A produtora de vinhos convida mais mulheres a conhecer e se aventurar neste delicioso mundo vitivinícola. “Este é um mundo maravilhoso que une culturas. Um mundo baseado na natureza. Trabalhamos com fatores incontroláveis, mas determinantes, como clima e pessoas, e é isso que direciona a nossa aventura constante de começar a cada ano um novo desafio. No lugar de criar rotinas, aprendemos a lidar com as mudanças constantes e nos adaptar para cada ano ser capazes de fazer o melhor vinho”, conclui.
Para finalizar, ninguém menos que Susana Balbo, a primeira mulher produtora de vinhos na Argentina e proprietária da vinícola Susana Balbo Wines, também deixa seus conselhos. “As mulheres têm mostrado que temos talento e vocação para fazer vinhos de qualidade e com um equilíbrio muitas vezes diferenciado dos vinhos produzidos pelos homens. É como se a nossa personalidade feminina também se demonstrasse no estilo dos vinhos e esta é uma mudança muito importante por estar em linha com o que os consumidores procuram hoje”, diz Susana.
As dicas de Susana para quem quer se aventurar ou já se aventura no vinho é: “você tem que amar o que faz, não importa o que você tenha que fazer, pois às vezes tem que fazer coisas que não são para isso que você estudou, por exemplo. Estudei enologia e faço muitos vinhos, mas também tive que dirigir a empresa e montar planos de negócios, para os quais tive que treinar. Então você tem que amar o que faz. O amor é uma força que move absolutamente tudo”, finaliza.
Sobre os desafios encontrados no caminho, ela comenta que é preciso ter resiliência e entender que um fracasso não é um fracasso, mas, sim, um novo ponto de partida. “Está tudo na nossa cabeça, nas configurações do nosso computador mental. Temos muito mais talentos do que imaginamos e só podemos encontrá-los quando enfrentamos e superamos o medo, aquele medo do fracasso e do que as pessoas vão dizer, que é o que nos paralisa. Você tem que superar o medo, e quando você o supera, uma vez encorajado para sempre, você percebe que no final não foi tão difícil. É um pouco como andar de bicicleta: quando você finalmente tira as rodas, tudo fica mais fácil. Tenho orgulho de dizer que abri caminho para muitas mulheres enólogas que vieram depois de mim, demonstrando que com esforço é possível ter simultaneamente uma vida profissional de sucesso e uma vida familiar de sucesso também. Atualmente, as mulheres que entram na indústria do vinho têm a oportunidade de se desenvolver mais facilmente do que antes. Isto não só acontece porque há mais tecnologia e facilidades para viajar e mergulhar em conhecimento, mas também porque dispõem de uma enorme quantidade de ferramentas para demonstrar o seu talento e capacidade”, diz a enóloga argentina.