Nova Friburgo e os 200 anos da primeira colônia alemã oficial do Brasil
Por Pedro Elias Erthal Sanglard
Com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, o Príncipe Regente Dom João não só abriu os portos da colônia às nações amigas, como também autorizou a doação de sesmarias a estrangeiros aqui residentes, dentre outras importantes medidas adotadas.
No Brasil, as sesmarias eram grandes áreas de terras doadas pelo Reino de Portugal aos seus súditos católicos e ricos que as requeressem, com compromissos de identificar a área, comprovar suas condições econômicas para pagar o dízimo à Ordem de Cristo, fazer sua medição e demarcação, bem como cultivar essas terras virgens ainda não colonizadas, no prazo máximo de 5 anos, através das cartas de sesmarias assim concedidas, sob pena de se tornarem terras devolutas ou sem dono.
Essa autorização de Dom João possibilitou que vários não portugueses que aqui residiam também recebessem terras no Brasil, bem como a vinda de colonos estrangeiros para trabalhar nas fazendas de seus conterrâneos, em substituição à mão de obra escrava da África predominante na época.
Assim sendo, as primeiras tentativas de criação de colônias alemãs no Brasil foram projetos de sócios estrangeiros privados, como no caso do liderado pelo naturalista alemão Georg Wilhelm Freyreiss, que trouxeram para o então Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, criado em 1815, colonos alemães e suíços, a partir de 1818, para trabalhar em suas fazendas, e fundaram a “Colônia Leopoldina”, atual Helvécia, distrito do Município de Nova Viçosa, no sul do Estado da Bahia, a qual não deu certo, tendo os colonos a abandonado e sido substituídos por escravos africanos.
Já a primeira imigração alemã oficial para povoamento do império brasileiro, promovida pelo Imperador Dom Pedro I, após a independência do Brasil de 1822, foi para a Vila de Nova Friburgo, atual cidade de mesmo nome do Estado do Rio de Janeiro, em maio de 1824, a fim de reforçar a Colônia Suíça ali existente desde 1819, e não para a Colônia de São Leopoldo, atual cidade de mesmo nome do Estado do Rio Grande do Sul, a qual ocorreu somente depois, em julho de 1824, apesar de ser considerada o “ Berço da colonização alemã no Brasil”.
Após a independência, nosso primeiro Imperador Dom Pedro I necessitava de reforços no seu exército para garantir o novo império contra rebeliões dos seus opositores e das tropas ainda leais a Portugal, bem como para a defesa do território contra os vizinhos espanhóis.
Então, em 1822 foi enviado à Europa um emissário do Imperador, o alemão, médico e major do exército imperial Georg Anton Von Schäffer (ou Schaeffer), que assinou contratos de colonização nas principais cidades dos estados da Confederação Germânica, já que a unificação como Império Alemão ocorreria somente em 1871, prevendo o envio de colonos (homens casados e com família) e principalmente de soldados alemães (homens solteiros) para os Batalhões de Estrangeiros criados no Império do Brasil, estes últimos disfarçados de colonos, pois, após as guerras napoleônicas e o Congresso de Viena (1814/1815), os governos europeus proibiram a emigração de militares para exércitos estrangeiros, que eram compostos por mercenários e por tropas nacionais, naquela época.
Tendo em vista que a primeira constituição do Brasil de 1824 permitiu outras religiões no Império, além da oficial católica, neste mesmo ano, aportaram no Rio de Janeiro os veleiros transatlânticos Argus, em janeiro, e depois o Caroline, em abril, trazendo as primeiras famílias de colonos luteranos para povoamento e mercenários alemães para o exército, que seriam enviadas inicialmente para as colônias particulares de Leopoldina e de Frankental, no sul da Bahia, mas acabaram mandadas para reforçar a Colônia Suíça de Nova Friburgo, lá chegando em 3 de maio de 1824, onde ocuparam as casas e os lotes de terras abandonados pelos pioneiros colonos suíços católicos, passando assim Nova Friburgo a ser uma colônia suíça e alemã, como reconhecido por SINIMBU em seu relato de1852.
Aproveitando as comemorações dos 200 anos da desta primeira imigração oficial alemã para o Brasil, em 2024, esperamos que esse artigo contribua para o resgate da verdadeira história da primeira colônia alemã oficial para povoamento do Império Brasileiro, que foi NOVA FRIBURGO, depois dos suíços, e não São Leopoldo, além de Nova Friburgo ter sido também o local da primeira Igreja Luterana da América Latina, fundada pelo Pastor SAUERBRONN, em 3 de maio de 1824, juntamente com a primeira Colônia Alemã oficial do Brasil.
Cabe registrar que, após 1824, outras famílias germânicas também foram para a Colônia Suíça e Alemã de Nova Friburgo, como, por exemplo, a família Erthal, que era católica e emigrou da Alemanha para o Brasil depois dos pioneiros colonos alemães de Schäffer, em 1826, no veleiro Brodtrae, juntamente com outros colonos, mercenários e a segunda família Gradwohl, tendo essas duas famílias também sido admitidas na Colônia Suíça e Alemã de Nova Friburgo, como adidas do navio Caroline, e seguiram os mesmos caminhos dos primeiros colonos alemães pois o alemão JOSEPH ERTHAL com sua esposa ANNA BÁRBARA MÜLLER, sua filha ELISABETHA MARGARETHA casada com seu genro JACOB GRADWOHL, luterano, e seus dois netos BÁRBARA e PHILIPP JACOB, com exceção do seu filho solteiro JOHANN ERTHAL que foi recrutado e serviu no Rio de Janeiro, ocuparam a casa colonial 73, abandonada pelo antigo colono alemão Urbain Bellinger, mas sem receber lote de terras como os demais colonos haviam recebido anteriormente, cujo brasão segue abaixo.
Seguem as relações das famílias de imigrantes germânicos fundadores da primeira colônia alemã oficial do Brasil, em 3 de maio de 1824.
No primeiro veleiro Argus vieram membros das seguintes famílias germânicas: Alt, Baum, Baumbach, Becker, Berbert, Berkle, Blass, Böhm, Borde, Bourguignon, Bröder, Bullrich, Caspar, Damerval, Daut, Dietrich, Dorer, Döring, Dörr, Dorrer, Drott, Dreyer, Eller, Emmerich, Falts, Fechter, Fedberg, Geyl, Grieb, Gross, Häberle, Heerd, Heiderich, Heinrich, Heringer, Hermann, Hoffmann, Jungblut, Jünger, Juraz, Kaiser, Klein, Kleinfelder, Kloss, Lamm, Lauback, Meyer, Moll, Müller, Nanz, Neerwein, Niethammer, Ott, Planck, Plevotz, Projahn, Reipert, Riegel, Sauerbronn, Schaefer, Schenkel, Schmidt, Schmitthammer, Schneider, Schnepf, Schott, Schröder, Schwab, Schwenck, Schwindt, Spamer, Steegner, Stuben, Ulrich, Will, Winter, Zaeb e Ziegler.
Já no segundo veleiro Caroline vieram membros das seguintes famílias germânicas: Beck, Bröker, Böhlinger, Böhm, Bornhoeft, Brodt, Brönning, Brost, Bruchmeyer, Class, Cords, Denkwitz, Dinkel, Dockhorn, Dott, Emmerich, Fahle, Fahning, Franke, Freese, Friesinger, Geltisch, Gradwohl, Gundermann, Hahn, Hasemeyer, Hassenkamp, Havemann, Heinrich, Hennert, Herbert, Hiewinger, Hildebrand, Hoeffel, Hörle, Hübinger, Jordan, Kasius, Kern, Kitz, Kleber, Krause, Kundt, Lacome, Laetsch, Lafrenz, Lange, Lengler, Levi, Lübcke, Marcus, Mengold, Messinfeld, Metzger, Meyer, Mölhenhof, Morschel, Müller, Nagel, Neubert, Nur, Oberländer, Oswald, Ott, Otto, Pätzmann, Pfingsttag, Pockorny, Poetzmann, Procker, Prust, Reichelt, Reichhold, Rensch, Ruthbrack, Ripperger, Ritscke, Robert, Roese, Romanus, Rupert, Rush, Sandmann, Sathler, Schrambach, Scharis, Scheibel, Scheusele, Schlabow, Schleising, Schloeder, Schlussen, Schmidt, Schneider, Schoene, Schütt, Schütte, Serer, Stanislow, Stedter, Stief, Stoffe, Storck, Sylvester, Trandefeld, Tresf, Trost, Uelman, Vagenhauer, Weber, Weiser, Winter, Wolf e Zingrebe.
Nova Friburgo, maio de 2024.
*Pedro Elias Erthal Sanglard é Conselheiro da Associação João Erthal; 2º Secretário do Centro Cultural Teuto Friburguense; autor dos livros “Família Sanglard. Suiça-Brasil” e “ As Famílias Erthal-Gradwohl e Nova Friburgo – . A verdadeira primeira Colônia Alemã do Brasil”
Nova Friburgo e os 200 anos da primeira colônia alemã oficial do Brasil
Foto: João Luccas Oliveira
Por Pedro Elias Erthal Sanglard
Com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, o Príncipe Regente Dom João não só abriu os portos da colônia às nações amigas, como também autorizou a doação de sesmarias a estrangeiros aqui residentes, dentre outras importantes medidas adotadas.
No Brasil, as sesmarias eram grandes áreas de terras doadas pelo Reino de Portugal aos seus súditos católicos e ricos que as requeressem, com compromissos de identificar a área, comprovar suas condições econômicas para pagar o dízimo à Ordem de Cristo, fazer sua medição e demarcação, bem como cultivar essas terras virgens ainda não colonizadas, no prazo máximo de 5 anos, através das cartas de sesmarias assim concedidas, sob pena de se tornarem terras devolutas ou sem dono.
Essa autorização de Dom João possibilitou que vários não portugueses que aqui residiam também recebessem terras no Brasil, bem como a vinda de colonos estrangeiros para trabalhar nas fazendas de seus conterrâneos, em substituição à mão de obra escrava da África predominante na época.
Assim sendo, as primeiras tentativas de criação de colônias alemãs no Brasil foram projetos de sócios estrangeiros privados, como no caso do liderado pelo naturalista alemão Georg Wilhelm Freyreiss, que trouxeram para o então Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, criado em 1815, colonos alemães e suíços, a partir de 1818, para trabalhar em suas fazendas, e fundaram a “Colônia Leopoldina”, atual Helvécia, distrito do Município de Nova Viçosa, no sul do Estado da Bahia, a qual não deu certo, tendo os colonos a abandonado e sido substituídos por escravos africanos.
Já a primeira imigração alemã oficial para povoamento do império brasileiro, promovida pelo Imperador Dom Pedro I, após a independência do Brasil de 1822, foi para a Vila de Nova Friburgo, atual cidade de mesmo nome do Estado do Rio de Janeiro, em maio de 1824, a fim de reforçar a Colônia Suíça ali existente desde 1819, e não para a Colônia de São Leopoldo, atual cidade de mesmo nome do Estado do Rio Grande do Sul, a qual ocorreu somente depois, em julho de 1824, apesar de ser considerada o “ Berço da colonização alemã no Brasil”.
Após a independência, nosso primeiro Imperador Dom Pedro I necessitava de reforços no seu exército para garantir o novo império contra rebeliões dos seus opositores e das tropas ainda leais a Portugal, bem como para a defesa do território contra os vizinhos espanhóis.
Então, em 1822 foi enviado à Europa um emissário do Imperador, o alemão, médico e major do exército imperial Georg Anton Von Schäffer (ou Schaeffer), que assinou contratos de colonização nas principais cidades dos estados da Confederação Germânica, já que a unificação como Império Alemão ocorreria somente em 1871, prevendo o envio de colonos (homens casados e com família) e principalmente de soldados alemães (homens solteiros) para os Batalhões de Estrangeiros criados no Império do Brasil, estes últimos disfarçados de colonos, pois, após as guerras napoleônicas e o Congresso de Viena (1814/1815), os governos europeus proibiram a emigração de militares para exércitos estrangeiros, que eram compostos por mercenários e por tropas nacionais, naquela época.
Tendo em vista que a primeira constituição do Brasil de 1824 permitiu outras religiões no Império, além da oficial católica, neste mesmo ano, aportaram no Rio de Janeiro os veleiros transatlânticos Argus, em janeiro, e depois o Caroline, em abril, trazendo as primeiras famílias de colonos luteranos para povoamento e mercenários alemães para o exército, que seriam enviadas inicialmente para as colônias particulares de Leopoldina e de Frankental, no sul da Bahia, mas acabaram mandadas para reforçar a Colônia Suíça de Nova Friburgo, lá chegando em 3 de maio de 1824, onde ocuparam as casas e os lotes de terras abandonados pelos pioneiros colonos suíços católicos, passando assim Nova Friburgo a ser uma colônia suíça e alemã, como reconhecido por SINIMBU em seu relato de1852.
Aproveitando as comemorações dos 200 anos da desta primeira imigração oficial alemã para o Brasil, em 2024, esperamos que esse artigo contribua para o resgate da verdadeira história da primeira colônia alemã oficial para povoamento do Império Brasileiro, que foi NOVA FRIBURGO, depois dos suíços, e não São Leopoldo, além de Nova Friburgo ter sido também o local da primeira Igreja Luterana da América Latina, fundada pelo Pastor SAUERBRONN, em 3 de maio de 1824, juntamente com a primeira Colônia Alemã oficial do Brasil.
Cabe registrar que, após 1824, outras famílias germânicas também foram para a Colônia Suíça e Alemã de Nova Friburgo, como, por exemplo, a família Erthal, que era católica e emigrou da Alemanha para o Brasil depois dos pioneiros colonos alemães de Schäffer, em 1826, no veleiro Brodtrae, juntamente com outros colonos, mercenários e a segunda família Gradwohl, tendo essas duas famílias também sido admitidas na Colônia Suíça e Alemã de Nova Friburgo, como adidas do navio Caroline, e seguiram os mesmos caminhos dos primeiros colonos alemães pois o alemão JOSEPH ERTHAL com sua esposa ANNA BÁRBARA MÜLLER, sua filha ELISABETHA MARGARETHA casada com seu genro JACOB GRADWOHL, luterano, e seus dois netos BÁRBARA e PHILIPP JACOB, com exceção do seu filho solteiro JOHANN ERTHAL que foi recrutado e serviu no Rio de Janeiro, ocuparam a casa colonial 73, abandonada pelo antigo colono alemão Urbain Bellinger, mas sem receber lote de terras como os demais colonos haviam recebido anteriormente, cujo brasão segue abaixo.
Seguem as relações das famílias de imigrantes germânicos fundadores da primeira colônia alemã oficial do Brasil, em 3 de maio de 1824.
No primeiro veleiro Argus vieram membros das seguintes famílias germânicas: Alt, Baum, Baumbach, Becker, Berbert, Berkle, Blass, Böhm, Borde, Bourguignon, Bröder, Bullrich, Caspar, Damerval, Daut, Dietrich, Dorer, Döring, Dörr, Dorrer, Drott, Dreyer, Eller, Emmerich, Falts, Fechter, Fedberg, Geyl, Grieb, Gross, Häberle, Heerd, Heiderich, Heinrich, Heringer, Hermann, Hoffmann, Jungblut, Jünger, Juraz, Kaiser, Klein, Kleinfelder, Kloss, Lamm, Lauback, Meyer, Moll, Müller, Nanz, Neerwein, Niethammer, Ott, Planck, Plevotz, Projahn, Reipert, Riegel, Sauerbronn, Schaefer, Schenkel, Schmidt, Schmitthammer, Schneider, Schnepf, Schott, Schröder, Schwab, Schwenck, Schwindt, Spamer, Steegner, Stuben, Ulrich, Will, Winter, Zaeb e Ziegler.
Já no segundo veleiro Caroline vieram membros das seguintes famílias germânicas: Beck, Bröker, Böhlinger, Böhm, Bornhoeft, Brodt, Brönning, Brost, Bruchmeyer, Class, Cords, Denkwitz, Dinkel, Dockhorn, Dott, Emmerich, Fahle, Fahning, Franke, Freese, Friesinger, Geltisch, Gradwohl, Gundermann, Hahn, Hasemeyer, Hassenkamp, Havemann, Heinrich, Hennert, Herbert, Hiewinger, Hildebrand, Hoeffel, Hörle, Hübinger, Jordan, Kasius, Kern, Kitz, Kleber, Krause, Kundt, Lacome, Laetsch, Lafrenz, Lange, Lengler, Levi, Lübcke, Marcus, Mengold, Messinfeld, Metzger, Meyer, Mölhenhof, Morschel, Müller, Nagel, Neubert, Nur, Oberländer, Oswald, Ott, Otto, Pätzmann, Pfingsttag, Pockorny, Poetzmann, Procker, Prust, Reichelt, Reichhold, Rensch, Ruthbrack, Ripperger, Ritscke, Robert, Roese, Romanus, Rupert, Rush, Sandmann, Sathler, Schrambach, Scharis, Scheibel, Scheusele, Schlabow, Schleising, Schloeder, Schlussen, Schmidt, Schneider, Schoene, Schütt, Schütte, Serer, Stanislow, Stedter, Stief, Stoffe, Storck, Sylvester, Trandefeld, Tresf, Trost, Uelman, Vagenhauer, Weber, Weiser, Winter, Wolf e Zingrebe.
*Pedro Elias Erthal Sanglard é Conselheiro da Associação João Erthal; 2º Secretário do Centro Cultural Teuto Friburguense; autor dos livros “Família Sanglard. Suiça-Brasil” e “ As Famílias Erthal-Gradwohl e Nova Friburgo – . A verdadeira primeira Colônia Alemã do Brasil”