Não aceitação, preconceito e violência atingem saúde emocional dos LGBTQIAPN+
No dia 28 de junho é comemorado o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ e, apesar de estarmos em pleno século 21, a não aceitação, o preconceito e a violência ainda estão presentes na vida dos LGBTQIAPN+. Somente neste ano, até o mês de abril, 61 deles morreram no Brasil, em função do preconceito e da intolerância de parte da população. Entre 2020 e 2023, foram 5.865 mortes registradas pelo mesmo motivo. E, essa violência produz em muitos uma vulnerabilidade, sobretudo, psicológica que compromete saúde mental podendo levar ao suicídio, conforme o que aconteceu com 30 LGBTQIAPN+ no ano passado.
Os dados são do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, que demonstram ainda que taxa de empregabilidade é menor para LGBTQIAPN+, em relação a cis-heterossexuais e a probabilidade de estigmatização, humilhação e discriminação é maior em serviços de saúde.
Para o Observatório, os jovens LGBTQIAPN+ não são inerentemente propensos ao risco de suicídio devido à sua orientação sexual ou identidade de gênero, mas sim colocados em maior risco devido à forma como são estigmatizados e violentados na sociedade. É um sofrimento resultante da LGBTIfobia interpessoal, institucional e estrutural. E é isso que a psicóloga Bárbara Couto vem percebendo em seu consultório. “Hoje os LGBTQIAPN+ procuram o consultório mais pelo preconceito que eles vivem e os machuca. O preconceito é exaustivo, doloroso, e podem levar a quadros de depressão, ansiedade, alcoolismo, uso de drogas, problemas de saúde mental também rela tados pelos meus pacientes que precisam ser cuidados. Além das altas taxas de suicídio entre os LGBTQIAPN+, são bem relevantes”, confirma a psicóloga.
Não aceitação começa com próprio LGBTQIAPN+, que cresceu em uma sociedade preconceituosa
O preconceito, muitas vezes, começa com o próprio LGBTQIAPN+ com a não aceitação do que ele é, principalmente quando se cresce numa sociedade que acredita que essas característica são pecados ou imorais. “Ser uma pessoa LGBTQIAPN+ não quer dizer que seja uma pessoa sem vergonha ou que escolhe ser o que quer, é uma característica determinada geneticamente. E não é um distúrbio ou uma doença, trata-se de uma variação, porque nós somos seres humanos e somos muito diversos. Do mesmo jeito que tem pessoas com cabelo loiro, outras com cabelo crespo, outras mais com cabelo preto, alguém com olhos azuis ou castanhos, a sexualidade é uma característica, ta nto a identificação de gênero, quanto a orientação. Tanto os LGBTQIAPN+ quanto a sociedade em geral precisam entender essa questão para que o preconceito e sofrimento diminuam” esclarece Bárbara.
Apesar de ser uma característica biológica, a pessoa geralmente se descobre LGBTQIAPN+ no período da adolescência. E a jornada de auto aceitação é dolorosa, porque tem muitas questões para lidar, como saber quem ele é, o medo da sociedade, dos pais, “Entre os maiores desafios dos LGBTQIAPN+, está se assumir para os pais e como eles vão reagir. Esse é um medo real e justificado, porque muitas famílias podem rejeitar discriminar e ser violentas. Mas esse processo de revelação para os outros é necessário para cessar o sofrimento de não poder ser quem sé é e pode virar um filtro para entender quem ama mesmo a pessoa do jeito que ela é. E estar junto ao s que nos amam e nos aceitam é muito importante”, relata a psicóloga.
E para conseguir abrir mão de algumas relações por não ser aceito como se é, é muito importante que o LGBTQIAPN+ cuide da sua saúde emocional. “ Ele precisa se colocar em primeiro lugar, mesmo que as pessoas não façam isso, se conhecer, se aceitar e se amar como é. Assim, ele consegue não ser tão afetado pela discriminação e pelo preconceito. E nisso a terapia pode ajudar muito”, finaliza Bárbara Couto.
A psicóloga Bárbara Couto
Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.
Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.
Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.