Foto João Britto

Nesta terça-feira (20/8), Marcelo Tas conversa, no Provoca, com a primeira mulher negra trans a ser eleita deputada federal, Erika Hilton, símbolo da luta dos diferentes, que em 2020 foi a vereadora mais votada do País. Ela conta sobre o seu amadurecimento na política, como foi chegar à Câmara dos Deputados e o que ela acha do Congresso Nacional. Também comenta a respeito da mudança no visual e o gosto pelo universo da beleza, a reconexão com a mãe, a relação com o namorado e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, a partir das 22h.

Tas pergunta para Erika se a Câmara dos Deputados é o lugar dela. “Difícil de responder (…) eu acho aquele lugar tão horroroso para dizer que aquele é o meu lugar (…) é o lugar que eu quero transformar, que eu preciso estar ali para defender uma agenda de direitos, para trazer aos olhos da sociedade debates que são importantes, fazer a defesa de muitas pautas que são essenciais para todo mundo (…) é fundamental e importante que eu esteja naquele lugar, mas aquele não é o meu lugar, o meu lugar é alegre, é leve, é feliz, de gente bonita, sorridente, que acredita na vida, que tem esperança, aquelas pessoas são amargas, tem uma luz horrorosa”, diz.

Sobre o Congresso Nacional, a deputada comenta: “é um dos Congressos mais conservadores, retrógrados e odiosos dos últimos tempos. É um Congresso que não tem compromisso com a nação, com a constituição e com as pessoas. É pautado no ódio, nos interesses e numa agenda de costumes que eles transformam em terrorismo o tempo todo (…) eles não estão preocupados em trabalhar os investimentos do país, que a economia cresça, diminua os índices de desigualdade, aumento do emprego, enfim, avance (…) o Congresso que a gente tem hoje despreza as pessoas (…) trabalha arduamente para que o governo seja fracassado (…) é um Congresso baixo nível”.

Hilton fala para Tas das mudanças no seu visual. “O meu trabalho tem um dress code horroroso, que faz mal às pessoas (..) as pessoas não têm preocupação com a estética na política (…) a minha intenção é transformar a política em algo jovem e palatável para todo mundo e, em especial, para os jovens (…) eu sou uma deputada que trabalha com o universo da beleza para tornar a política mais bonita, porque ela não pode continuar sendo essa coisa de homens, velhos, ultrapassados, precisa ser moderna, jovem, descolada; eu sou uma parlamentar descolada”.

‘Você está muito mais madura do que no período em que a gente se encontrou. O que aconteceu?’, pergunta Tas. “É a vida, é o tempo. Vem a maturidade, desce o colágeno e tudo vai fazendo sentido, se organizando. Eu acho que a vida é uma escola, a vida me ensinou, eu sou quem eu sou pela vida”, diz.

‘Qual inteligência você desenvolveu para não entrar em todas as tretas que aparecem na sua frente?’, indaga Tas. “Uma inteligência emocional, do autocuidado e a maturidade de não vestir uma capa de heroína. Nós não somos heroínas, somos lutadoras que acreditam num mundo melhor, na justiça, na luta como ferramenta de mudança e transformação (…) quando a gente entende que, às vezes, a gente perde, e que o perder é a continuidade para a gente levantar e lutar amanhã, a gente não se frustra, não fica derrotista (…) a nossa luta não é de ego, de preferência, é de vida, eu brigo pela vida, a gente tem ânsia, desespero, mas a gente tem que entender que é preciso ter calma”.

Sobre o namoro com Daniel Zezza, a deputada diz: “Nós estamos apaixonados. A gente é um casal trans, ele é um homem trans (…) e ter essa relação saudável (…), de troca, de afeto, de construção e intimidade é mostrar para as pessoas que elas também podem, que o amor, a cumplicidade, o companheirismo, ter alguém para voltar no fim do dia, também é para uma travesti, também é para um homem trans, é para todo mundo”.