Volta ao presencial? Especialista lista pontos positivos e negativos de abandonar o home office e migrar para um regime 100% presencial

Nos últimos tempos, o debate sobre a volta ao regime presencial de trabalho tem ganhado destaque, e essa transição não é apenas uma mudança de ambiente, já que traz consigo uma série de implicações que impactam tanto a produtividade quanto o bem-estar dos colaboradores. Neste contexto, é fundamental analisar os pontos positivos e negativos do retorno, considerando fatores como a colaboração entre equipes, a cultura organizacional, a saúde mental e a flexibilidade, a fim de entender como as empresas podem se ajustar às novas realidades do mundo do trabalho. Pensando neste cenário, o COO Marcelo Martins listou alguns pontos considerados positivos e negativos da volta de um regime 100% presencial. Confira a seguir:
Pontos positivos:
1. Fortalecimento da cultura corporativa: “culture expels” é uma frase muito famosa entre quem estuda e/ou se preocupa com cultura corporativa. Ela significa que, para o bem ou para o mal, uma cultura corporativa forte tende a fazer com que colaboradores se encaixem em um dos extremos muito rapidamente: ou (i) vão amar e se identificar de corpo e alma com a cultura; ou (ii) vão contar os segundos para sair. Importante ressaltar que isso vale tanto para traços e valores positivos, quanto para os tóxicos/negativos. Nesse sentido, a convivência no ambiente físico pode intensificar e ressaltar as nuances nas relações interpessoais, o que tende a deixar a cultura corporativa mais vívida. Assumindo que você seja um fundador ou gestor que imprimiu uma cultura positiva na empresa, ter o time no mesmo espaço tende a facilitar a construção de laços, aumenta o senso de pertencimento e reforça os valores – já positivos – da empresa.
2. Potencial melhora na comunicação e colaboração: tendo a crer que comunicação é talvez o fator mais importante na condução das operações de uma empresa. Ter clareza comunicativa permite que os incentivos e objetivos de todos os níveis de hierarquia da empresa estejam alinhados, e isso vai desde a comunicação oficial/institucional até a comunicação do dia a dia, nas conversas de corredor. Nesse ponto, o regime presencial, em média, supera muito o remoto: estar no mesmo ambiente aumenta as interações entre colaboradores, o que consequentemente aumenta o número de oportunidades para comunicar e reforçar mensagens importantes.
3. Acompanhamento mais próximo da equipe: da mesma forma que é dificílimo desenvolver um sistema de ferramentas para gestão da comunicação e informação em um modelo remoto, também é dificílimo fazer a gestão de entregáveis e progresso. Como consequência de uma comunicação mais próxima e frequente, é muito mais fácil para gestores ajustarem o curso, fornecerem feedbacks e liderarem pelo exemplo se estiverem fisicamente ao lado de seus liderados. Só é necessário cuidado e equilíbrio no processo, principalmente em uma migração saindo de um regime remoto: ficar muito em cima, dar feedbacks muito frequentes ou querer intervir em qualquer situação pode ser visto como microgerenciamento, apontado por 73% dos entrevistados como o sinal número 1 de gestão tóxica em uma pesquisa levantada pela consultoria Monster.
4. Melhor separação entre vida pessoal e profissional: Estar no escritório ajuda a estabelecer limites mais claros entre o trabalho e o tempo livre. Trabalhar em regime de home office requer um nível de disciplina que pouquíssimas pessoas têm, o que geralmente faz com que convirjam para um dos extremos: (i) produzem muito pouco, por conta do excesso de distrações em casa; ou (ii) entram num modo “workaholic” e simplesmente não conseguem parar de trabalhar. E o pior é que, geralmente, o segundo caso tende a ser tão desgastante que, justamente por trabalhar demais, o colaborador rende menos por hora trabalhada. E ainda corre um sério risco de gerar um burnout em algum momento.
5. Redução de isolamento social: muito se fala sobre redução de qualidade de vida no modelo presencial, mas para ser justo, acho interessante falar do outro lado da moeda. O ser humano é, em essência, um animal social, o que significa que precisamos interagir uns com os outros para que mantenhamos nossa saúde mental em dia. E, se trabalhamos de 8 a 10 horas por dia, passamos a maior parte de nossa vida adulta trabalhando. Portanto, não é razoável esperar que o trabalho não seja um espaço de socialização e manutenção da saúde psicológica dos seus colaboradores. São inúmeras as pesquisas que mostram a correlação do home office com o desenvolvimento de depressão e até quedas de produtividade, mesmo com mais horas trabalhadas, por conta da carência de interações sociais. A volta ao regime presencial pode ser um grande diferencial nessa componente de relações interpessoais e para saciar as necessidades sociais que temos por natureza. Fazer amizades no trabalho não só é saudável, como recomendado e essencial.
Pontos negativos:
1. Perda de flexibilidade e qualidade de vida: principalmente em grandes metrópoles, onde o tempo de traslado e tráfego tende a ser muito alto, retornar ao trabalho presencial pode implicar na perda de horas valiosas no dia do colaborador. Horas essas que poderiam ser utilizadas para: realizar atividades físicas, passar tempo de qualidade com a família, desenvolver hobbies, ou simplesmente dormir mais para ficar mais descansado(a). Vale lembrar que o tempo investido fora do trabalho aumenta o engajamento e produtividade dos seus funcionários, já que contribui para sua saúde física e mental. Pessoas saudáveis são mais produtivas!
2. Menor atratividade para talentos: a triste verdade, reiterada por inúmeras estatísticas e pesquisas, é que o Brasil é um país de terceiro mundo com moeda fraca e baixa produtividade. Isso significa que empresas sediadas em países com moedas mais fortes e maior poder de compra per capita – como Estados Unidos, Canadá e diversos países europeus – tem muita facilidade para atrair os talentos que se destacam aqui dentro (e alavancar sua produtividade), e dificilmente irão parar de contratar remotamente. Sendo assim, apesar de existir uma tendência nacional e internacional de retorno ao modelo presencial, é impossível ignorar esse efeito cross-border: o que significa que essas empresas seguirão contratando profissionais qualificados remotamente, já que apresenta uma excelente relação custo-benefício. E, portanto, voltar ao regime presencial aumenta consideravelmente o risco daquele candidato excepcional aceitar uma oferta concorrente de uma empresa offshore para trabalhar remotamente.
3. Risco de desmotivação: mesmo que a tendência seja o retorno ao presencial ou mesmo a adoção de um regime híbrido, as lideranças devem tomar o devido cuidado para que a decisão de o fazer não seja para “seguir a hype”, e sim porque estudaram os possíveis cenários e entenderam que os bônus superam os ônus. Um estudo recente da consultoria Michael Page apontou que existe um descompasso entre empresas e colaboradores nessa questão: 6 em cada 10 brasileiros afirmam que trocariam de emprego para “fugir” do trabalho presencial. Portanto, analise bem o potencial impacto na satisfação de seus funcionários, pois insatisfação gera baixa produtividade e alta rotatividade de pessoal.
4. Aumento de despesas e/ou investimentos: sabemos que a língua das empresas é a financeira, e que até mesmo as vantagens ou desvantagens supostamente imensuráveis, como “qualidade de vida” para os funcionários, tem alta correlação com ou impacto direto naquelas que são mensuráveis, como produtividade, faturamento, lucro e margem. Sendo assim, algumas das desvantagens mais fáceis de se mensurar podem ser observadas justamente nas contas da empresa, principalmente se tratando de despesas fixas e margem operacional. É essencial botar na conta: despesas com aluguel, manutenção do espaço, energia, materiais de escritório, transporte, alimentação dos funcionários e muito mais.