Casos como os denunciados por Felca revelam a face oculta da exploração digital infantil

O influenciador e humorista Felca provocou uma avalanche de repercussões após publicar, nesta semana, um vídeo de quase 50 minutos denunciando casos de exploração e adultização de crianças e adolescentes nas redes sociais. O conteúdo, que já ultrapassa 30 milhões de visualizações, apresenta situações envolvendo influenciadores digitais e familiares que expõem menores de forma sexualizada, em busca de visualizações e consequentemente, monetização por isso.
O vídeo denuncia um fenômeno que vem crescendo: a transformação da vida de crianças em produto digital, com vídeos e fotos que exploram a imagem de crianças e adolescentes para gerar engajamento e, consequentemente, lucro. Em alguns casos, os próprios responsáveis incentivam comportamentos e aparências sexualizadas para ampliar o alcance de visualizações, patrocínios e vendas de conteúdo exclusivo.
Entre os casos citados, estão realities com adolescentes, conteúdos administrados por responsáveis que se aproximam de plataformas voltadas ao público adulto e a atuação de redes de pedofilia que se beneficiam de algoritmos para alcançar perfis infantis. Felca afirmou ter formalizado denúncia à polícia e anunciou que toda a monetização obtida com o vídeo será destinada a instituições de apoio às vítimas.
Diante disso, a ONG Ficar de Bem, referência na defesa dos direitos de crianças, adolescentes, mulheres, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, reforçou a gravidade do cenário exposto. “Casos como os denunciados por Felca revelam a face oculta da exploração digital infantil. Toda criança tem direito à segurança, à privacidade e ao desenvolvimento saudável”, inclusive no ambiente digital”, declara Lígia Vezzaro, psicóloga e gerente técnica institucional da ONG.
Lígia ainda lembra que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), que completou 35 anos desde sua promulgação em 13 de julho de 1990, estabelece proteção integral às pessoas com menos de 18 anos e penaliza exposições que atentem contra sua dignidade, como pornografia e sexualização em qualquer meio, incluindo a internet.
A psicóloga ainda alerta que a participação de crianças em conteúdos exploratórios na internet pode causar graves consequências para seu desenvolvimento físico, emocional e social. “Essa exposição precoce a situações adultas pode comprometer a autoestima, gerar traumas psicológicos profundos e dificultar o estabelecimento de relações saudáveis no futuro. Além disso, essas crianças ficam vulneráveis a abusos, assédios e até mesmo à inserção em redes criminosas, o que pode comprometer ainda mais sua segurança e bem-estar”, detalha.
Lígia ainda destaca que a responsabilização dos adultos envolvidos é a principal atenção em tudo isso, e que a proteção de crianças e adolescentes não é dever apenas da família, mas sim de todos. A ONG Ficar de Bem atua na prevenção, na formação de profissionais e na proteção integral de crianças e adolescentes. A psicóloga reforça ainda que a construção de um ambiente online mais seguro só será alcançada com o envolvimento das plataformas digitais, dos governos e da sociedade. “O Projeto de Lei 2628, em discussão no Congresso Nacional, propõe a proteção da infância e a responsabilização de quem explora. Neste sentido, é de suma importância que a sociedade se engaje, acompanhe e apoie a aprovação do PL 2628”, finaliza.