Por Lucio Eroli

Durante muito tempo, sucesso foi sinônimo de conquista externa: cargos altos, prestígio, metas batidas, reconhecimento público. A narrativa era clara: quem “chega lá” vence. Mas, na prática clínica e no contato direto com líderes e profissionais de alta performance, a realidade se mostra bem diferente.

Muitos chegam ao topo com um alto custo emocional. Por fora, tudo funciona. Por dentro, o vazio é ensurdecedor.

A dor por trás da imagem de sucesso

Um executivo de 47 anos, referência técnica em uma grande empresa, procurou ajuda após dois colapsos emocionais. Ele dormia mal, vivia à base de medicamentos e descrevia sua rotina como um esforço constante para manter uma imagem.

Disse: “Não sei mais o que eu quero. Só sei o que esperam de mim.”

Esse tipo de relato não é raro. Em um mundo que valoriza performance acima de tudo, muitos profissionais se sentem obrigados a vestir armaduras emocionais para seguir funcionando. Vergonha, medo de parecer fraco e a crença de que “dar conta” é obrigação criam uma barreira invisível para o cuidado real.

Ao iniciar o processo terapêutico, o que mais emergiu não foi a pressão do trabalho, mas a falta de sentido. A ausência de propósito gera um tipo de sofrimento que nem a melhor remuneração ou o maior reconhecimento consegue resolver.

Viktor Frankl, psiquiatra austríaco, escreveu que “quem tem um porquê enfrenta quase qualquer como”. A ciência confirma: estudo da Columbia University (2020) mostrou que o senso de propósito reduz em 35% os níveis de depressão e ansiedade em líderes de alta performance.

Nesse processo, o reencontro com a própria humanidade é o que transforma. Um momento simbólico foi quando esse executivo conseguiu, pela primeira vez, demonstrar fragilidade diante da filha. Chorou. Pediu desculpas. Disse que queria reaprender a viver.

Nem todas as relações sobreviveram (o casamento, por exemplo, não resistiu), mas houve ganho de autenticidade. Ele segue no mesmo cargo, mas com outra postura. Passou a dizer “não”, a reconhecer limites, a valorizar conexões reais.

Fama não é realização

A aparência de sucesso muitas vezes mascara um sofrimento silencioso. Celebridades, influenciadores, médicos e executivos de destaque também enfrentam ansiedade, depressão e solidão. Estudo da London School of Economics (2019) apontou que 72% das pessoas com alta exposição pública relataram sofrimento emocional significativo. A distância entre a imagem construída e o “eu real” pode gerar conflitos psíquicos intensos.

Buscar metas é saudável. O problema é atrelar o valor pessoal exclusivamente ao desempenho e à validação externa.

Pesquisas lideradas por Carol Dweck, da Universidade de Stanford, mostram que o foco excessivo em performance contribui para burnout e desconexão com a própria identidade. Como apontou a Psychological Science em estudo com 400 executivos: “A ausência de propósito gera burnout. E o burnout desconecta o sujeito de si mesmo.”

Talvez seja hora de rever o que realmente significa “ter sucesso”. Talvez ele esteja menos nas conquistas visíveis — e mais na coerência entre quem somos, o que fazemos e o impacto que deixamos.

Sucesso pode estar na escuta verdadeira. Na coragem de pedir ajuda. No reencontro de um pai com sua filha.

E talvez, acima de tudo, esteja em poder respirar com sentido.

Uma pergunta final

Se sua definição de sucesso ainda depende mais do olhar dos outros do que da sua própria verdade… talvez você esteja vivendo uma crença, e não uma escolha.

E poucas coisas são tão frustrantes quanto alcançar um destino que nunca foi seu.

*Lúcio Eroli é psicanalista formado pelo Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP), com consultórios estabelecidos em Alphaville/SP e Santo André/SP. Sua trajetória integra a tradição psicanalítica com os avanços científicos da neurociência e da medicina, sustentada por especialização na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e pós-graduação em Neurociência Comportamental pela UNIFESP. Também possui pós-graduação em Pessoas pela Fundação Dom Cabral e mais de 25 anos de experiência como executivo e conselheiro de empresas. Essa formação multidisciplinar lhe permite oferecer técnicas profundas e avançadas da Psicanálise, da Neurociência e da Psicologia, aliada a bases científicas sólidas, ampliando a compreensão dos processos inconscientes, emocionais e comportamentais. Seu propósito é proporcionar um espaço de reflexão e transformação, ajudando pessoas a enfrentar angústias, conflitos e desafios contemporâneos sob uma perspectiva que une rigor clínico e visão científica. Criador do Plano B e do Programa Jovens Extraordinários.