A partir de 17 de outubro, o Museu do Futebol cruza as fronteiras brasileiras e mergulha no universo do futebol sul-americano para compartilhar e discutir a história dos países que compõem a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL). A nova exposição temporária, ¡Cancha Brava! Futebol sudamericano en disputa, convida o público a vivenciar não apenas as conquistas e confrontos dentro de campo, mas também a paixão arrebatadora que move os sul-americanos, seus conflitos e contradições, tornando o futebol uma das manifestações culturais mais marcantes do continente. Localizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, o Museu do Futebol é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo. 

A curadoria de Luiza Romão, Matias Pinto e Gisele de Paula propõe um percurso histórico, político e poético, pelo subcontinente a partir do futebol, explorando instalações audiovisuais, paisagens sonoras, experiências interativas, fotografias e obras de arte – muitas produzidas com exclusividade para a exposição. A exposição conta com patrocínio do Mercado Livre, Arkema, Goodyear, Farmacêutica EMS e Itaú; e com apoio da Adidas, Grupo Globo, Pinheiro Neto, Zanchetta e Sabesp – todas por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. 

Como o próprio título anuncia, a exposição é bilíngue, explorando os cruzamentos entre português e castelhano. Cancha, palavra de origem quéchua, significa tanto “campo” quanto “pipoca”. Brava, nem precisa de explicações. Juntas, elas descrevem as torcidas que apoiam e seguem seus times intensa e incondicionalmente, por toda parte, nos bons e nos maus momentos. !Cancha Brava!, assim, é uma síntese da história do nosso futebol, feita de muita paixão, particularidades e bolas divididas.

“A palavra “cancha” já traz consigo uma ancestralidade, uma memória indígena que antecede o próprio futebol. E quando unimos a ela a “brava”, ganhamos a força do modo sul-americano de viver o jogo: intenso, vibrante, coletivo e, muitas vezes, conflituoso. Esse título expressa não uma essência fixa, mas um jeito particular de transformar o futebol em parte da nossa cultura”, concluiu a curadora Gisele de Paula.

Luiza Romão destaca as camadas extracampo do futebol sul-americano. Para ela, o esporte “revela tanto o que nos aproxima quanto o que nos singulariza”, sendo marcado por festa e disputa. Também a política ocupou esse território, com regimes ditatoriais usando estádios como propaganda e centros de repressão. “A história do futebol sul-americano é feita de tensões, mas também de festa, paixão, música, poesia e arte”, resume. 

Assim, ¡Cancha Brava! Futebol sudamericano en disputa celebra o futebol enquanto invenção coletiva, de resistência e festa. Assim, a exposição discute como o futebol é atravessado não apenas pela festa e pela paixão, mas também pelos diversos conflitos presentes na América do Sul, como o colonialismo, a discriminação racial, a desigualdade, o autoritarismo e a violência, como um convite para que o público entre em campo com a memória, o afeto e a luta de povos que resistem jogando.

A mostra está dividida entre os eixos temáticos “Roubar la Pelota”, “Um século de fiesta y rivalidade”, “Interlúdio” “Jogo Sucio”, “Aqui estamos pa’ que te recuerde” e “Carnaval Toda la Vida”. 

Logo no começo da exposição, o público é recebido por uma instalação interativa sonora em que pode escolher, em um dial de rádio gigante, uma “estação” que corresponde a um dos dez países da região. Em um mapa interativo, o país selecionado será iluminado, enquanto toca uma música local e as informações gerais de demografia, geografia e futebol são narradas por uma pessoa natural de lá – em português, mas com seu sotaque castelhano. São vozes de locutores e pessoas comuns nascidas nos vários países e residentes no Brasil que, de alguma forma, estão envolvidas com a produção da exposição.  

No espaço central da mostra, uma arquibancada evoca o clima de festa nos estádios com cantos de 25 torcidas sul-americanas que são paródias de músicas conhecidas. A arquibancada foi construída com um mecanismo de bass shaker, que a faz vibrar junto com o som. 

Obras de arte 

Entre as obras inéditas produzidas para a mostra estão o mural “Un siglo de fiesta y rivalidad”, dos artistas Marina Ceglie e Cleber TTC, que tem uma vista em perspectiva dentro de um estádio de futebol, com mais de 180 personagens que retratam personalidades ou histórias relacionadas ao futebol sul-americano – o público terá o desafio de descobrir quais são.  

Também é inédita a obra “Escadaria de Memória”, de Sabrina Savani, uma intervenção site-specific na escadaria que ligava o antigo vestiário do Pacaembu ao campo. Os visitantes poderão circular por um piso de vidro sobre a obra, que propõe um enfrentamento poético e político à história recente da América do Sul a partir da memória de vítimas das ditaduras militares. 

Já Jaime Lauriano estará presente com a obra “Nunca Foi Sorte”, acrílico com adesivos, impressão fotográfica e miniaturas em madeira. Já a artista Shirley Espejo mexe com a memória do público com uma colagem de jogadores negros sul-americanos que foram importantes e pouco conhecidos. Também estão presentes com obras os artistas Mulambo, Roberta Estrela D’Alva e Frente 3 de Fevereiro.

Língua e literatura 

A exposição também apresenta como a literatura sul-americana se relaciona com o futebol e a arte popular. Frases de autores como o uruguaio Eduardo Galeano, o colombiano Gabriel García Marquez e o brasileiro Mário de Andrade são destacadas em técnicas visuais diversas, como os bordados arpilleras do Chile e os “abridores de letras” do Brasil – técnica utilizada na pintura de barcos em Belém (PA).  

O convívio entre português e castelhano aparece também em um glossário interativo em que os visitantes podem escolher uma palavra relacionado ao universo do futebol e descobrir seus equivalentes nas duas línguas e em suas variações de um país para outro. Entre os vários dispositivos de acessibilidade da exposição, nesta instalação haverá uma mesa em braille com os termos disponíveis, com a possibilidade de pessoas cegas acionarem o dispositivo por comando de voz.

Sobre a experiência dos visitantes, Luiza Romão, fala: “Nós tentamos criar um percurso que tanto traga informações (históricas, culturais etc.) quanto provoque experiências imersivas no público. Para isso, a exposição conta com vários documentos, fotografias, livros e instalações sonoras, jogos interativos e materialidades torcedoras”.

Matias Pinto, diz que espera que o público se reconheça na diversidade sul-americana: “Os visitantes encontrarão uma mescla de informação e sentimento. Buscamos as histórias e personagens mais interessantes do nosso continente, passando por celebridades da bola e cultura e por quase anônimos. O mural concebido pela dupla Marina Ceglie e Cleber TTC e a instalação da Sabrina Savani são duas obras que só poderão ser contempladas nesta exposição”.

Celebração de abertura ao público

No sábado, 18 de outubro, o Museu do Futebol terá uma programação especial para celebrar a abertura da ¡Cancha Brava! Futebol sul-americano em disputa.

Das 11h às 12h30, acontece a oficina de criação de bandeiras e estêncil com o muralista e grafiteiro Cleber TTC, que assina, ao lado de Marina da Silva Ciegle, o mural “Un siglo de fiesta y rivalidad”, parte integrante da mostra. A atividade terá também a participação de Rapha Be.e.PH, artista presente na exposição, que vai demonstrar suas técnicas de pintura e bordado.

A programação continua às 13h, com uma apresentação musical acústica na Grande Área, convidando o público a mergulhar nos ritmos e sonoridades da cultura sul-americana em sintonia com o tema da exposição.