Homens à máquina: a procura por cursos de moda triplicou nos últimos anos e já representa 6% em sala de aula

Falar sobre saúde masculina vai muito além dos exames de rotina. Neste Novembro Azul, o debate sobre autocuidado ganha novas dimensões, incluindo o bem-estar emocional e a busca por atividades que aliviam o estresse e estimulam a expressão pessoal.
E é nas salas de aula que um novo perfil masculino vem se formando. Na Sigbol, uma das redes de escolas de moda mais tradicionais do país, os homens já representam 6% dos alunos, e a procura triplicou nos últimos anos. Segundo dados da instituição, metade dos alunos está na faixa dos 19 aos 35 anos, e os cursos mais procurados são Corte e Costura, Modelagem Industrial, Designer de Moda e Visual Merchandising. A escola prevê que essa porcentagem deva chegar aos 10% em 2026.
“A costura deixou de ser um território restrito. Hoje, homens de diferentes idades procuram a Sigbol tanto por vocação quanto por bem-estar. É uma atividade que exige foco, paciência e entrega, e isso tem muito a ver com o autocuidado que o Novembro Azul propõe”, afirma Aluízio de Freitas, diretor da rede.
Entre esses novos alunos está João Paulo Olodeci, 32 anos, que encontrou na costura uma forma de ressignificar a dor e transformar o luto em arte. Desde cedo ele via a tia tricotar e se encantava com o movimento das agulhas. Quando a mãe adoeceu, o crochê e o tricô se tornaram uma distração nas longas horas de hospital. Hoje, ele produz peças sob encomenda, de suéteres a tapetes e enxovais de bebê, e é aluno do curso de Malharia da Sigbol, com planos de seguir para Corte e Costura.
“Cada peça é especial, feita com dedicação e estudo. Não é só um trabalho manual, é uma forma de amor. Cada criação é única”, conta João.
A tendência também alcança outros perfis, como o de Antônio Alves de Sousa, 72 anos, taxista e aluno do curso de Corte, Costura e Modelagem. Mesmo fora da faixa etária predominante, ele representa o público que busca na costura uma nova forma de se expressar e manter a mente ativa.
“Eu gosto muito de costura. Ainda não fiz grandes mudanças, mas esse curso significa muito pra mim. Nossa turma interage bem e a professora é nota 10”, afirma.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os homens representam 75% dos casos de suicídio no Brasil e ainda são os que menos procuram apoio psicológico ou terapêutico, segundo levantamento da Fiocruz. Por isso, atividades manuais vêm ganhando espaço como ferramentas complementares para aliviar o estresse, melhorar a concentração e fortalecer o equilíbrio emocional.
“O ato de criar com as mãos devolve ao homem uma dimensão emocional que, por muito tempo, foi reprimida. Isso tem tudo a ver com o que o Novembro Azul propõe: falar sobre cuidado, prevenção e também sobre sentir”, reforça Aluízio.
Com histórias diferentes, João e Antônio representam gerações distintas de um mesmo movimento: o dos homens que estão reaprendendo a cuidar de si, seja pela arte, pelo ofício ou simplesmente pelo prazer de criar.






