A escrita tem um poder silencioso, mas profundamente transformador. Quando colocamos em palavras aquilo que sentimos, criamos uma ponte entre o caos interno e a possibilidade de compreensão. É nesse gesto de tradução da emoção em linguagem que a escrita se revela terapêutica — uma forma de organizar o que dói, dar sentido ao que parece sem explicação e, pouco a pouco, reconstruir a si mesmo.

A trajetória da autora Georgia Rodrigues é um exemplo sensível desse poder. Desde criança, ela cultivava um fascínio pelas artes. As pinturas de Monet, vistas em uma exposição no Rio de Janeiro, despertaram nela o desejo de entender como nasce um universo estético capaz de tocar tão fundo o olhar humano. Mais tarde, a música e o cinema tornaram-se seu refúgio — o abrigo que acolhia suas tristezas adolescentes. Mas foi na vida adulta, em meio a um período de solidão durante a pandemia da covid-19, que Georgia descobriu uma forma nova e vital de expressão: a poesia.

Diante de uma paixão não correspondida e de um cenário de isolamento, ela começou a escrever. As palavras, antes guardadas, tornaram-se válvula de escape, cura e descoberta. “Colocar meus sentimentos no papel foi um gesto de sobrevivência emocional”, conta a autora. Transformar dor em beleza e ausência em arte foi sua maneira de continuar — e de se reencontrar.

Escrever, para Georgia, não foi apenas um exercício estético, mas um ato de autoconhecimento. Cada poema representava um passo na reconstrução de si, uma nova forma de compreender seus limites, desejos e vulnerabilidades. Nesse processo, ela aprendeu que o amor próprio é o primeiro passo para qualquer outro tipo de amor.

Dessa vivência nasceu o livro “Uma carta para o meu ex-futuro amor” (Editora Labrador), uma obra que reflete sobre a força de se reinventar quando tudo parece ruir. A escrita, como ela descobriu, não é apenas um instrumento de expressão — é também uma ferramenta de cura, um espelho que nos ajuda a enxergar quem somos e quem podemos ser.

Nietzsche dizia que “a arte existe para que a realidade não nos destrua”. Para Georgia, a poesia foi exatamente isso: um modo delicado e corajoso de continuar vivendo — e de se reconciliar com o próprio coração.