Como tatuagem e moda se misturam?

A tatuagem deixou de ser mera marca pessoal para se tornar um recurso estético que conversa diretamente com roupas, acessórios e linguagem visual de grandes marcas. Na prática, isso significa que estilos de tatuagem, do fine line ao realismo, do tradicional ao ornamental, podem influenciar estampas, cortes e até o styling de desfiles e editoriais. Essa aproximação também abre espaço para roupas que valorizam a pele como “tela”, com recortes e transparências pensados para mostrar e enquadrar a arte corporal.
“As tatuagens passam a ser parte do guarda-roupa. Não é só o desenho, é como o traço conversa com a silhueta, tecido e com a ocasião”, afirma Elizângela Gomes, professora da Sigbol, escola de moda e costura. Ela aponta a relação entre técnica de acabamento, como o traço fino versus bloco de cor, e escolhas de moda, desde o minimalismo ao maximalismo.
Para Jéssica Franco, fundadora do estúdio La Femme Tattoo, a moda é uma vitrine que valida estilos e acelera tendências: “Quando a passarela incorpora tatuagens (mesmo temporárias) ou quando marcas colaboram com tatuadores, a linguagem visual da pele ganha força e se traduz em estampas, joias e campanhas.” Esse movimento inclui também a oferta de aplicações temporárias (rhinestones, henna, transfer) em looks de eventos. Essa é uma solução que aproxima o universo tattoo de quem ainda tem um pé atrás com a marca permanente na pele.
A fama das tatuagens ajudam essas artes a ganharem mais espaço. De acordo com o instituto alemão Dali, o Brasil está entre os 10 países com maior percentual de população tatuada, com 30% da população com pelo menos uma tatuagem. E o setor vem crescendo em faturamento e oferta de estúdios. Em 2024 estimativas do setor nacional apontaram movimentação na casa de bilhões de reais e aumento de estúdios, sinalizando que a tatuagem já é mercado e tendência de consumo cultural, e isso pode impactar a moda diretamente.
Do ponto de vista técnico, a moda também influencia escolhas de estilo e visibilidade: mangas, gola e transparência orientam posicionamento de tatuagens, enquanto o crescimento de tecidos que imitam textura de pele e estampas que permitem quem não tatua experimentar a estética. “A escolha do posicionamento, arte e da escala da tatuagem passou a considerar o armário da pessoa. É um planejamento estético”, completa Elizângela.
A tatuagem e a moda se misturam em níveis diferentes, desde o desenvolvimento de tendências nas passarelas à oferta de produtos inspirados em traços corporais, passando pela tomada de decisões estéticas do próprio cliente. Esse encontro de dois universos cria oportunidades criativas, ao mesmo tempo em que transforma a pele em uma peça chave do look. Trabalhar com moda ou tatuagem mostra que uma das principais ideias é olhar o corpo tatuado como parte integral de um design e planejamento estético, e não apenas como superfície a ser coberta.






