Como viver o luto sem adoecer emocionalmente?
Com a chegada do Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro, é natural que assuntos relacionados à morte e ao luto estejam mais presentes no cotidiano de muita gente, afinal, a perda de um ente querido é um dos momentos mais difíceis de qualquer pessoa. A perda pode vir de forma repentina ou após um longo período de sofrimento, mas a dor que ela causa é quase sempre profunda e o tempo do luto pode variar para cada indivíduo, causando um grande misto de sentimentos.
Segundo a psicanalista Rachel Poubel, o luto é dividido em cinco fases: Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Ela ressalta a importância de não ignorar o processo de perda da pessoa que partiu. “Nem todos vivem as cinco etapas, necessariamente, nem nessa ordem, mas é a teoria mais aceita sobre o assunto. Viver o luto é muito importante, porque é uma fase em que os sentimentos vão sendo trabalhados. Caso não se viva esta fase, tentando ignorar e “ser forte” ela virá em outro estágio da sua vida em forma de uma doença emocional mais grave. Por mais que a tristeza esteja doendo, é um momento de finalizar o ciclo com aquela pessoa”, disse.
Ainda de acordo com Poubel, a sociedade, de modo geral, ainda possui certa resistência em lidar com a morte de maneira aberta. “As pessoas não falam tanto sobre a morte quanto deveriam, mas ela faz parte da nossa vida. As pessoas vivem com sentimento de que se não falarem da morte ela não acontecerá. Freud, o pai da psicanálise, explica que a dificuldade em assimilar o fim da vida acontece porque no inconsciente não existe representação disso. Nunca passamos pela morte, por isso, o nosso inconsciente, que é repleto de representações, não consegue fazer uma associação com isso”, explica.
A importância do acolhimento
Um ponto destacado pela psicanalista é a importância de acolher o luto, tanto para quem o vivencia quanto para aqueles que estão ao redor. “É fundamental que a pessoa tenha um espaço para expressar seus sentimentos, sem julgamentos ou pressões. A rede de apoio, que inclui amigos, familiares e até profissionais, é essencial nesse momento”, afirma.
Ela sugere que o apoio profissional pode ser muito útil para ajudar as pessoas a elaborarem seu luto, principalmente quando há sinais de que o processo está estagnado. “É preciso ficar atento aos sinais caso o luto se prolongue por mais de um ano, observando se a fase da depressão está perdurando, se essa pessoa está com comportamentos estranhos que dê sinais de que o luto não está passando e sim se transformando numa doença emocional”, alerta a psicanalista.
Como ajudar quem está de luto
Quando nos encontramos diante de alguém em luto, pode ser difícil saber o que fazer ou dizer. A especialista aconselha que a melhor forma de ajudar é estar presente. “Muitas vezes, o simples fato de ouvir, sem tentar dar soluções ou minimizar a dor, já é um grande ato de apoio. Evite frases como ‘Ele está em um lugar melhor’ ou ‘Tudo acontece por um motivo’, pois elas podem não ajudar.”
Além disso, a psicanalista destaca que cada pessoa tem seu tempo. “É preciso respeitar o processo de cada um, a maneira como cada mente lida com essa perda. Algumas pessoas podem encerrar o luto, viver todas as fases em apenas meses e outras em anos”, conclui Poubel.
Fases do Luto
Negação
Normalmente, a reação imediata ao ouvir a notícia da morte de alguém amado é rejeitá-la. A pessoa enlutada não acredita nem quer acreditar na possibilidade de ter perdido um ente querido, então, rejeita a própria realidade. A negação, neste caso, tem como objetivo protegê-la de uma verdade inconveniente, a qual pode desestruturá-la psicologicamente. Deste modo, esse estágio do luto pode demorar minutos, dias ou semanas para passar. É comum que a pessoa enlutada busque o isolamento social e o distanciamento de tudo que lembre o indivíduo que partiu neste período.
Raiva
Sentimentos de raiva, angústia, desespero, medo, culpa e frustração se manifestam constantemente. Este turbilhão domina a mente da pessoa enlutada, fazendo-a ter condutas ríspidas e desagradáveis. Quando alguém tenta trazê-la para realidade, ela reage com agressividade, ainda incapaz de aceitar a perda. É possível que a pessoa em luto expresse a sua raiva por meio de atitudes autodestrutivas, como beber exageradamente, brigar com desconhecidos e destruir propriedade alheia. Como está transtornada, ela não compreende a gravidade de suas ações.
Barganha ou Negociação
Esta fase do luto se constitui por negociações. A pessoa enlutada negocia consigo mesma ou com a entidade superior em que acredita na tentativa desesperada de aliviar a sua dor. Diversos pensamentos de “e se eu tivesse feito isso” ou de “se eu fizer X coisa, posso reverter a situação” rondam a mente da pessoa em luto. Mesmo que ela tenha consciência da impossibilidade desses feitos, ela os alimenta para consolar a si mesma.
Depressão
Uma das cinco fases do luto mais intensas é a depressão. A pessoa é acometida por um grande sofrimento, o qual pode se prolongar por semanas ou meses. Ela se apega à dor causada pela partida do ente querido, usando-a como combustível para permanecer em estado depressivo. Assim, a pessoa enlutada chora copiosamente, repensa as suas decisões e experiências de vida, se isola de familiares e amigos, tem crises de saudade e não consegue retomar à vida normal da mesma maneira que antes. Este estágio do luto requer muita conversa e apoio de pessoas próximas, além de terapia . A pessoa em luto pode acabar desenvolvendo um transtorno de depressão profundo e não conseguir chegar ao estágio de aceitação da morte.
Aceitação
A aceitação é o último estágio do luto, mesmo quando a experiência não é linear. É neste momento que a pessoa enlutada compreende a sua nova realidade, constituída pela ausência de quem partiu. Os sentimentos e angústias já foram externalizados, resultando em uma sensação de paz interior. Aceitar a perda não significa seguir a vida como se a pessoa amada nunca tivesse existido. Não é esquecer os momentos bons partilhados com ela nem enterrar lembranças calorosas em um canto da mente. A saudade ainda vai mexer com as emoções e a pessoa amada ainda vai visitar os pensamentos, mesmo anos após a sua partida.
Sobre a psicanalista
Rachel Poubel é psicanalista e aceleradora de carreira, com mais de dez anos de experiência, e um histórico de mais de 3 mil vidas transformadas ao redor do mundo.
O público alvo da profissional são pessoas que queiram tratar emoções e problemas como ansiedade e burnout, por exemplo, e que desejam evoluir e descobrir seu propósito de vida.
Rachel Poubel atende em consultório, em Linhares, no Espírito Santo, e também de forma online.
Acompanhe a psicanalista pelo perfil do Instagram: @rachel.poubel e pelo Youtube: Rachel Poubel.