*Marcus Fontoura

Imagine que um professor apresenta um problema a um aluno e, no dia seguinte, o estudante volta com a solução. Animado, ele a apresenta ao professor, que, para seu espanto, recusa-se a considerá-la, alegando: “É impossível você ter resolvido isso de um dia para o outro”.

É plausível que a solução estivesse correta, mas a arrogância em descartar ideias impede que talentos floresçam e inovações aconteçam. Essa atitude sufoca a imaginação, um recurso vital em qualquer ambiente, especialmente nas empresas.

Não apenas no trabalho, mas em todas as áreas da vida, é essencial criar um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade para compartilhar sugestões. Chamar uma ideia de “estúpida” é a maneira mais eficiente de matar a criatividade.

Nem todas as propostas serão brilhantes desde o início, mas suprimir aquelas que ainda precisam ser lapidadas é suprimir a fonte de toda inovação. Ao receber uma ideia, o primeiro passo deve ser confrontá-la com dados. Esse processo ajuda a filtrar propostas sem desmerecê-las, mantendo o diálogo construtivo.

Ter um espaço aberto para indicações não convencionais é crucial, especialmente em equipes diversas. As melhores soluções muitas vezes surgem de propostas aparentemente “fora da caixa” que não foram descartadas prematuramente.

Lembro-me de quando encasquetei com uma solução melhor para um problema de processamento de anúncios. Passei por períodos de dúvida, mas, graças ao ambiente receptivo, pude apresentar uma ideia inicial que colegas experientes ajudaram a amadurecer.

Esse ambiente de abertura também exige combater preconceitos de todos os tipos: gênero, origem, raça, classe social e idade. Em certos casos, jovens inexperientes enfrentam dificuldades para serem ouvidos, especialmente em empresas com profissionais renomados.

Já trabalhei ao lado de verdadeiras lendas da tecnologia e era natural sentir insegurança, mas tive a sorte de encontrar um lugar que acolheu minhas ideias, mesmo quando ainda malformadas.

Essa confiança para contribuir muitas vezes nasce em casa, como foi o meu caso. Meus pais, especialmente minha mãe, sempre me incentivaram a explorar, mesmo com o risco de errar. Não importa se eu falhasse em um esporte ou em outro projeto: eles vibravam com meus avanços e me apoiavam. Porém, nem todos têm esse privilégio.

Por isso, é preciso criar espaços seguros e receptivos, onde todos possam contribuir, crescer e se sentir valorizados. Saber que as ideias, por mais bobas que pareçam, serão recebidas de braças abertos, deixa a criatividade fluir e novos planos surgirem, podendo servir como um pontapé para projetos inovadores e revolucionários em diferentes áreas.

*Marcus Fontoura é o CTO da StoneCo e autor do livro “Tecnologia Intencional”