Empreendedorismo: por que as marcas precisam ser mais do que produtos

Em um cenário em que o Brasil figura entre os países mais empreendedores do mundo, com cerca de 47 milhões de pessoas envolvidas em algum tipo de negócio próprio, segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em parceria com o Sebrae, a palavra empreender ganhou novos significados. Se há alguns anos bastava ter uma boa ideia e um produto de qualidade, hoje o desafio vai muito além: as marcas precisam representar propósito, identidade e experiência. Precisam ser mais do que produtos.
A pesquisa do GEM ainda mostra que, embora o número de empreendedores estabelecidos tenha crescido, passando de 10,4% em 2022 para 11,9% em 2023, a taxa de empreendedores em estágio inicial vem caindo, reflexo da concorrência acirrada e da dificuldade de sustentação dos negócios. No ambiente digital, a oferta é quase infinita e o público, mais exigente. “A diferenciação não está mais apenas no produto, mas na história e no propósito que a marca comunica. O cliente compra o que acredita, e não apenas o que precisa”, analisa o empresário Fábio Príncipe, fundador da Forever Liss.
A nova geração de consumidores busca conexão e valores. Estudos da Accenture Strategy apontam que 62% dos consumidores esperam que as marcas assumam uma posição clara sobre temas relevantes, e 52% escolhem empresas com base em seus propósitos. Essa mudança de comportamento exige que o empreendedor entenda seu papel não apenas como vendedor, mas como agente de transformação.
“Construir uma marca é construir significado. Quando fundei minha primeira empresa de cosméticos, eu não vendia apenas produtos de beleza, eu vendia autoestima, autenticidade, estilo de vida. Quando você entende o impacto da sua marca, tudo muda: a equipe trabalha com mais propósito e o público sente isso”, destaca o empresário.
No Brasil, por exemplo, apenas cerca de 12% das empresas sobrevivem por mais de três anos, segundo o Sebrae. Entre as que se mantêm, há um traço comum: a capacidade de criar valor emocional e simbólico em torno de sua identidade. Isso torna o negócio menos dependente de preço e mais sustentável ao longo do tempo.
Marcas com propósito são mais resilientes
O conceito de brand purpose (propósito de marca) deixou de ser um diferencial e se tornou uma exigência. Pesquisas da Deloitte indicam que empresas orientadas por propósito têm até 40% mais chances de reter talentos e clientes, além de crescerem três vezes mais rápido do que as demais. Isso porque marcas com propósito claro inspiram, criam comunidade e geram identificação.
Em um mundo hiper conectado e competitivo, o consumidor é bombardeado por mensagens todos os dias. O que diferencia uma marca não é mais o preço, o slogan ou a embalagem, mas a autenticidade, a capacidade de ser coerente entre o que diz e o que faz. Marcas que entregam valor real e se posicionam de forma transparente conquistam espaço duradouro.
Por isso, segundo Fábio Príncipe, o futuro do empreendedorismo está menos em vender produtos e mais em construir narrativas verdadeiras e relacionamentos sólidos. “A marca precisa ser uma extensão da visão do empreendedor. Ela deve inspirar, resolver problemas e refletir um propósito claro. Quando isso acontece, o produto deixa de ser o centro e passa a ser o meio pelo qual o propósito se realiza”, conclui.






