Entrelinhas – Todos os dias, simplesmente, por Rosangela Buarque
Todos os dias minha cadelinha acorda
Espera que eu abra os olhos
Beija a minha boca
E me desperta, afinal.
Pede carinho e recebe.
Eu me levanto para abrir as janelas
E ela ocupa mais o seu lugar na cama
Que eu pensava ser só meu.
Pede com o olhar que eu fique com ela
O dia todo, sempre, para sempre.
Eu prometo que sim.
Ela sai da cama, se espreguiça, alonga
Acorda seu corpo no chão frio.
Solicita a mim o alimento do corpo
E água, que sorve com o conhecimento do necessário.
E ao sol, o alimento da alma.
Caminha todo o tempo
E corre
Para lá e para cá.
Não carece de longas distâncias
Ou de novas experiências.
Da janela, olha a rua sem expectativas.
Observa a sabedoria de poucos
E a ignorância de tantos outros.
Não julga, só observa.
Volta a andar pela casa
Para lá e para cá
Todo o tempo do dia.
Toda movimento
Ao fim da tarde inicia seu recolhimento.
Sabe que a noite se aproxima e se aproxima o descansar.
E eu me deito e choro a quarentena
A rotina que se instalou
A distância entre corpos
As possibilidades restritas.
E ela, deitada ao meu lado
Se basta a me ensinar com seu olhar amoroso
Que o que penso ser pouco
É , simplesmente, o essencial.
Rosangela Buarque – Pós-graduada em Ciência Política, graduada em Ciências Sociais e professora do Ensino Médio da Rede Estadual de Educação-RJ. Nutre uma paixão toda especial pelas artes, nas suas mais diversas expressões e, por vezes, se atreve a escrever poemas.