Especialista aponta caminhos para uma educação mais inclusiva para alunos neurodivergentes

O ensino para alunos neurodivergentes ainda representa um grande desafio para instituições e docentes brasileiros. Segundo o Censo da Educação de 2024, cerca de 7 milhões de atípicos estão matriculados nas escolas da rede pública e privada, o que representa 20% da população de estudantes. Ainda assim, 80% dos professores não possuem formação em educação inclusiva, e 60% deles não se sentem preparados para adaptar provas, atividades ou elaborar um Plano de Educação Individualizada (PEI).
Para Regiane Fagotto, fonoaudióloga e pedagoga com 25 anos de experiência na área, a inclusão escolar é um processo contínuo de aperfeiçoamento, que pode começar com atitudes simples, mas capazes de impactar positivamente no aprendizado desses alunos. “Acolher a singularidade com respeito e disposição de aprender é o primeiro passo para transformar a vida dos jovens atípicos”, afirma.
Segundo a pedagoga, que também é consultora da Plataforma Prova Adaptada, desenvolvida para capacitar professores na personalização de avaliações, atividades e PEIs conforme os diferentes perfis de aprendizagem, o segredo está no “olhar do educador”.
Assim, entre as ações recomendadas pela especialista para tornar a prática pedagógica mais empática e acessível estão:
– Ouça o aluno com empatia e sem pressa;
– Use linguagem visual e gestual de apoio, como pictogramas, quadros de rotina e gestos amplos;
– Programe rotinas claras e estruturadas, importantes para alunos neurotípicos preverem o seu dia na sala de aula e se sentirem mais seguros;
– Valorize pequenos avanços, reforçando positivamente as conquistas individuais;
– Mantenha o contato com a família, construindo uma rede de apoio mútuo.
Regiane também destaca a importância de criar um ambiente favorável para inclusão. “Mesmo com poucos recursos, é possível montar um espaço afetivo e acolhedor para o ensino de neurodivergentes”, diz a educadora, que selecionou algumas soluções bastante viáveis para escolas:
– Adapte o espaço com divisórias simples, para reduzir estímulos visuais e auditivos. Os alunos neurotípicos são mais sensíveis a luzes fortes e sons altos;
– Use recursos caseiros e alternativos para atividades didáticas, como pictogramas feitos à mão, brinquedos sensoriais reciclados e vídeos educativos gratuitos;
– Envolva a comunidade, pais e voluntários para ajudar a desenvolver projetos inclusivos e na produção de materiais didáticos;
– Implemente uma cultura de empatia na escola, com ações que incentivem o respeito às diferenças.
A pedagoga ainda reforça a importância da formação continuada e atualização de docentes e colaboradores da escola, além do aperfeiçoamento de estratégias, como a elaboração de PEIs com metas alcançáveis, adaptação curricular e avaliações individualizadas e mais flexíveis, com foco na aprendizagem e não apenas nos resultados. “Quando a escola adota práticas mais empáticas, estruturadas e personalizadas todos saem ganhando. E todos os alunos, atípicos ou não, aprendem melhor”, conclui.