A partir de 2026, a geração Alpha estará cada vez mais presente no mercado de trabalho. Nascidos entre 2010 e 2025, esses jovens são nativos digitais e representam cerca de 19,8% da população brasileira, segundo o Censo de 2022 do IBGE.

Com isso, é preciso entender os impactos que essa nova geração trará e o mercado de trabalho precisa se preparar para recebê-los. Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, explica quais podem ser as possíveis demandas dos Alphas para o ambiente corporativo.

“Essa geração impulsiona uma transformação nas culturas organizacionais, exigindo ambientes focados em propósito e impacto socioambiental. Ela demandará ainda inclusão, diversidade e equidade. Para atrair e reter esses talentos, as empresas precisarão ser ágeis, flexíveis, orientadas por valores e tecnologicamente avançadas. Isso implica que as corporações deverão adotar modelos com mais flexibilidade, como o trabalho híbrido, e implementar uma gestão alicerçada na confiança”, ressalta Torati.

Outra característica dessa nova geração são as habilidades digitais, aliadas à capacidade de adaptação, que podem ocasionar uma reconfiguração profunda no mercado. Para Torati, o expediente em horário comercial pode se tornar obsoleto para os Alphas, uma vez que valorizam a liberdade pessoal.

“Esses jovens também têm apreço por relações laborais horizontais, um reflexo da desverticalização familiar que presenciam desde cedo. Eles buscam informações e aprendem de forma autodidata, priorizando carreiras meritocráticas e que ofereçam ascensão baseada em desempenho. Mais do que salários e benefícios, a liberdade é uma prioridade, combinada com um idealismo marcante no âmbito da carreira”, explica o psicólogo.

No entanto, segundo o especialista, a inteligência emocional torna-se ainda mais crítica para a liderança eficaz, que precisa motivar e gerenciar equipes que acreditam na autonomia digital, mas podem ter menos experiência em interações humanas complexas.

“Há uma necessidade crescente de treinamento para que colaboradores e líderes possam navegar com sucesso nas dinâmicas interpessoais, equilibrando a proficiência tecnológica com uma forte inteligência emocional”, comenta Torati.

O que a geração Alpha busca para o futuro?

Essa nova geração demonstra uma preocupação com causas sociais, ética, sustentabilidade e com a Agenda ESG (Environmental, Social, and Governance). Consequentemente, empresas com forte cultura organizacional e genuínas ações de responsabilidade social se tornam imensamente mais atraentes, sinalizando uma luta por propósitos que transcendem o lucro.

“Essa valorização de um propósito social e ético pode, inclusive, favorecer a redução da jornada de trabalho 6×1 e impulsionar uma redefinição de sucesso e bem-estar que vai além do trabalho tradicional. Estimo que setores com forte impacto social, como ONGs, empresas de tecnologia focadas em soluções sustentáveis ou startups com missões claras de transformação, podem se tornar mais atraentes ”, explica o especialista.

A influência dessa geração forçará as corporações a se renovarem em um ritmo acelerado, incentivando a modernização. No entanto, um risco surge: aqueles que não conseguirem acompanhar essa velocidade de mudança podem se tornar ultrapassados.

“A busca por propósito e autenticidade por parte desses jovens tem o potencial de inverter a lógica do mercado de trabalho, fazendo-o orbitar em torno das tendências do trabalhador e não o inverso, o que pode se traduzir em ambientes corporativos onde a voz dos colaboradores é genuinamente ouvida e suas contribuições para um propósito maior são consideradas”, finaliza Torati.

*Marcos Torati é Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, com especialização em psicanálise (abordagem winnicottiana) e psicoterapia focal. É supervisor de atendimento clínico e professor e coordenador de cursos de pós-graduação em Psicologia e Psicanálise.