O isolamento social provocado pela pandemia, obrigando as famílias a conviverem 24 horas por dia dentro de casa,  trouxe à tona uma realidade que muitos casais já deveriam estar vivendo: um casamento falido. O número de divórcios no Brasil em 2022 foi de 420.039, o maior da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2007. Houve aumento de 8,6%, em comparação com 2021. Desses, 47% Brasil foram entre casais com filhos menores de idade.

De acordo com a psicóloga Bárbara Couto, mestre em Psicologia Clínica e Saúde pela Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha, quando se vive em um ambiente conflituoso, a melhor opção para os filhos é a separação dos pais. O impacto de viver em uma casa com muitas brigas, gritos e desrespeito é devastador para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. Os estudos mostram que crianças em famílias que têm muito conflito têm maior probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão e dificuldades de relacionamento. “A liberação do cortisol, o hormônio do estresse, é muito alta nesses ambientes. E, a exposição prolongada ao cortisol durante a infância é prejudicial para o  desenvolvimento do cérebro, afetando o hipocampo e o córtex pré-frontal. Tudo isso gera um clima de insegurança. Então, nesses casos, é mais saudável para as crianças que os pais se separem e ofereçam dois lares que sejam saudáveis e estruturados”, orienta a psicóloga.

Mesmo sem presenciar brigas, crianças sentem o distanciamento dos pais

As crianças têm uma sensibilidade natural para captar as mudanças no ambiente familiar. Mesmo sem entender exatamente o que está acontecendo, elas percebem os sinais de discussão, do silêncio tenso, doo afastamento físico ou emocional que existe entre os pais. Isso gera ansiedade, tristeza, comportamento regressivo, dificuldade no sono e problemas de comportamento. “O cérebro da criança é muito plástico. Elas são muito sensíveis ao que vivenciam e captam as mudanças do ambiente, desencadeando o estresse. As crianças não só percebem os problemas nas relações dos pais, como também são muito impactadas por esses problemas. Mesmo sem verbalizar, os comportamentos ou sintomas, vão refletir esse ambiente emocional que eles estão vivendo”, exp lica Bárbara.

E quando vivenciam abusos psicológicos contra um dos cônjuges, as crianças podem internalizar esses padrões, tornando-se submissas ou agressivas em seus relacionamentos. Além de causar também problemas de baixa autoestima, insegurança e dificuldade de expressar as emoções. “O abuso que essas crianças testemunham afeta negativamente o desenvolvimento delas, causando muitos danos psicológicos e neurológicos, podendo impactar nas habilidades emocionais, sociais e cognitivas” enumera ela.

Pais são modelos de comportamento para filhos

Os filhos veem no comportamento dos pais um modelo a ser seguido.  Com os pais, as crianças aprendem vendo, vivendo e convivendo o que é aceitável ou não. Quando se tem um casamento marcado por briga, desrespeito, falta de comunicação e conflitos constantes, a criança aprende que isso é normal. “Isso pode levar os filhos a reproduzirem esses padrões nos seus próprios relacionamentos presentes ou futuros. E o ciclo de relacionamentos tóxicos vai continuar. O casamento conflituoso ensina inconscientemente ou conscientemente aos filhos esses padrões negativos de relacionamento e influencia na capacidade dos filhos de formar vínculos saudáveis, principalmente no futuro”, explica a psicóloga.

Além disso, pais que continuam em relacionamentos conflituosos têm o risco de projetarem essa responsabilidade nas crianças, gerando sentimento de culpa nelas. “Pode parecer uma coisa muito altruísta, mas na verdade vai gerar danos terríveis, tanto pros filhos quanto pros pais”, finaliza Bárbara Couto.

*Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.

Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.

Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.