Mês da Consciência Negra: o que não fazer nas escolas, segundo a pedagoga Luiza Mandela

“Educação antirracista não é um evento, é um compromisso permanente.” É com essa afirmação que a pedagoga, doutoranda em Educação pela UERJ e mestre em Relações Étnico-Raciais Luiza Mandela provoca reflexões necessárias sobre o papel da escola durante o Mês da Consciência Negra.
Em seu artigo de estreia como colunista do Portal Conteúdo Aberto, da FTD Educação, a educadora alerta para a repetição de práticas ultrapassadas e superficiais que, em vez de promoverem a valorização da cultura afro-brasileira, acabam reforçando estereótipos raciais e distorcendo o sentido da data.
Um exemplo recente ilustra bem o problema: em uma escola do Rio de Janeiro, educadores colaram palha de aço em um cartaz para representar o cabelo de pessoas negras, durante uma atividade alusiva ao 20 de novembro. A intenção era homenagear, mas o resultado acabou reforçando um estigma histórico.
Além desse exemplo de colagem de “cabelos afro”, segundo Luiza, é comum que escolas adotem, ano após ano, atividades prontas e descontextualizadas, como:
murais de “pessoas negras” sem rosto;
apresentações com músicas que remetem ao passado escravocrata, sem contextualização histórica;
encenações de “quebra de correntes” ligadas à abolição, sem discussão sobre o processo escravocrata e suas consequências;
histórias infantis com narrativas e ilustrações estereotipadas.
Essas práticas, afirma a pedagoga, reduzem a pauta racial a um ritual simbólico e esvaziado de reflexão, desconsiderando a complexidade das relações étnico-raciais e o papel formador da escola.
“O letramento racial, que é o movimento de estudos sobre as relações étnico-raciais, é de suma importância para o desenvolvimento de uma prática antirracista contínua e contextualizada, evitando assim estereótipos acerca da história e cultura afro-brasileira e trabalhos pontuais, apenas em novembro”, afirma Luiza Mandela.
A partir de sua experiência como formadora e consultora, Luiza Mandela reforça que a educação antirracista não é um projeto temático, mas uma prática pedagógica permanente, que atravessa o currículo, as relações e o cotidiano escolar.
“Precisamos romper com a pedagogia do evento e buscar formações para trabalhar as relações étnico-raciais o ano inteiro, assim como nos diz a Lei 10.639/03”, reforça.
A lei 10.639/03 trata da obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana em todo o currículo escolar em escolas públicas e particulares, trazendo aspectos sociais, econômicos e políticos.
Educação antirracista o ano todo
Luiza Mandela propõe que o letramento racial seja incorporado à rotina pedagógica como eixo transversal, orientando práticas de leitura, arte, história e convivência. O objetivo é transformar o 20 de novembro em um ponto de reflexão dentro de um processo contínuo, e não em uma data isolada de homenagens.
“Não se trata de celebrar a consciência negra apenas em novembro, mas de formar consciência antirracista o ano inteiro. Isso se faz com intencionalidade pedagógica, currículo diverso e formação constante”, explica.






