O futuro do networking é estratégico, ou não é nada

Por Wander Miranda
Em tempos onde a velocidade da informação impressiona mais do que a profundidade das relações, é comum esquecer que o networking nasceu como uma estratégia de sobrevivência. Das tribos ancestrais às corporações modernas, a capacidade de formar alianças, gerar pertencimento e compartilhar visões de futuro sempre foi um diferencial competitivo. Mas hoje, mais do que nunca, o networking precisa deixar de ser apenas conexão e passar a ser decisão estratégica.
Vivemos em um ambiente hiperconectado, com redes sociais e ferramentas que prometem aproximar pessoas em segundos. Mas, o que temos visto é um acúmulo de contatos sem contexto, de likes sem profundidade, e de eventos que mais distraem do que alinham. No mundo empresarial, essa superficialidade custa caro. Porque conexões vazias não geram resultado.
Networking, para o empresário moderno, é sobre se posicionar em ambientes que desafiam, provocam e ampliam sua forma de pensar. Ambientes onde a troca não é casual, mas consciente. Onde estar presente significa assumir um compromisso com a própria evolução. É aqui que a diferença se instala: entre quem coleciona cartões e quem constrói pontes de crescimento.
Ainda vemos dois tipos de empresários. De um lado, os que entendem o networking como ferramenta tática: estão sempre em eventos, mas sem clareza do que procuram. Do outro, os que enxergam o networking como parte da estratégia: escolhem bem onde estar, com quem compartilhar e o que desejam extrair dessas relações. Os primeiros seguem até ocupados, mas pouco efetivos. Os segundos aceleram porque se cercam de quem os desafia a evoluir.
Ambientes como masterminds, conselhos e grupos de alto nível vêm ganhando espaço porque oferecem algo raro: conexão com direcionamento. Não basta trocar experiências, é preciso cocriar soluções. Não se trata de quantidade, mas de qualidade. E essa qualidade está diretamente ligada à clareza do que se busca como líder e como empresa.
É nesse ponto que entra a intencionalidade. A pergunta não é mais “quem você conhece”, mas “quem está disposto a pensar junto com você em um futuro mais inteligente”. Quem provoca, confronta e oferece perspectivas que você ainda não enxergava. Esse tipo de relação não nasce por acaso. Ela é cultivada em ambientes certos, com pessoas certas, sob uma curadoria que respeita tempo, maturidade e visão de jogo.
A tecnologia, claro, tem papel nesse processo. Plataformas, ferramentas de IA, algoritmos e recursos digitais ajudam a otimizar a gestão das conexões. Mas não substituem o essencial: o gesto, a escuta atenta, a empatia e a vivência real. A presença segue sendo insubstituível.
Empresários que lideram com consciência entendem que o networking é parte do sistema de crescimento. Eles estão atentos a quem está ao redor, a quais influências estão absorvendo, a que tipo de conversas estão participando. Networking, nesse contexto, é sobre narrativa compartilhada. Sobre pertencer a um grupo que valoriza resultado, mas também valoriza jornada.
E mais: é também sobre filtro. Não é qualquer evento, qualquer grupo, qualquer conexão. É preciso escolher onde estar com base em valores, objetivos e sinergia. Networking de verdade acontece quando há alinhamento de visão, quando há espaço para vulnerabilidade produtiva e quando todos compartilham a intenção de crescer juntos.
Também é importante lembrar que boas conexões não se medem apenas pelo retorno financeiro direto. Muitas vezes, a maior riqueza está nas trocas invisíveis: uma ideia que muda o rumo de um planejamento, uma provocação que leva a uma decisão corajosa, uma experiência compartilhada que evita um erro caro. Networking não é métrica de vaidade. É alavanca de sabedoria coletiva.
Por isso, o empresário que deseja crescer com consistência precisa rever seus critérios de conexão. Não se trata apenas de estar presente. Trata-se de fazer valer cada encontro, cada conversa, cada oportunidade de escuta. Porque é nesse tipo de ambiente que surgem os saltos de crescimento mais poderosos: aqueles que não estão nos livros, mas nas histórias reais de quem vive o mercado todos os dias.
Empresas que evoluem com consistência têm por trás de si lideranças conectadas com ambientes de alta performance relacional. São empresários que aprenderam a ouvir, a compartilhar aprendizados e a gerar valor antes de pedir valor. Networking, nesse nível, é capital social real. E capital social bem cultivado se transforma em oportunidade, crescimento e, sobretudo, em legado.
Portanto, o futuro do networking não será sobre conhecer mais gente. Será sobre estar nos lugares certos, com as pessoas certas, com o foco certo. Porque, no fim, quem cresce de verdade é quem sabe se conectar com inteligência.
*Wander Miranda é fundador da Enjoy, ecossistema de negócios focado em conectar e desenvolver empresários, promovendo soluções disruptivas e transformadoras.