Os 40 anos do Sambódromo e os desafios do carnaval carioca
Por Bayard Do Coutto Boiteux
Minha vida no setor oficial de turismo está intimamente ligada ao Sambódromo. Ingressei na Riotur em 1983, após passagens na Varig, na Hertz e na Kontik Franstur. Foi um período conturbado. Eram dezenas de gerentes indicados por políticos que nunca haviam participado do Executivo e que desconheciam empresas públicas e turismo. Era um tal de perseguir os colaboradores existentes na Riotur…
Aos poucos, vi que o gentil convite da vice presidente executiva da Riotur, Felisbina Assumpção e do Prefeito Jamil Haddad seria bem complexo. Trabalhar numa empresa pública de turismo é construir grandes projetos e sobretudo buscar sobrevivência no meio de muito ruído. Comecei no Centro de Estudos Turisticos e acabei diretor na gestão de Alfredo Laufer.
O Sambódromo tinha que ficar pronto para o carnaval de 1984. A ideía da construção partiu do então secretário municipal de Turismo, o Vereador Nestor Rocha. Ele ,juntamente com dois arquitetos da Riotur, levou ao conhecimento de Brizola e Jamil Haddad o projeto de uma estrutura fixa para acomodar o público que assiste aos desfiles. Era acabar de uma vez por todas com a montagem e desmontagem das arquibancadas. Brizola ficou muito entusiasmado e aceitou a construção da maior obra de amor pelo carnaval. A ideia inicial era de aproveitamento de uma dívida que a Siderúrgica Nacional tinha com o Estado e montar estruturas metálicas. No entanto, o governador resolveu atribuir a Darcy Ribeiro a supervisão do novo centro de eventos, e convidou Oscar Niemeyer para a empreitada.
As primeiras reuniões com os bicheiros foram de muita briga .Descobertas, inclusive tristes da então diretora de certames, Tania Fayal, que reconheceu um deles como participante das torturas que sofreu na ditadura militar. Havia também necessidade de fazer uma revolução nos desfiles, que após muita discussão passaram a ser divididos em dois dias, com um sábado das campeãs.
Trabalhei em 20 carnavais. Desde o atendimento ao setor 11, em 1984, até a participação da Comissão Organizadora. Coordenei os setores turísticos que também foram uma grande novidade para o maior evento do planeta, como é conhecido nosso carnaval.
A evolução dos desfiles trouxe obras na passarela e mudou o approach dos hoje grupo de ouro e especial. Nos primeiros anos, a Riotur teve um trabalho surreal para trazer publico nas sextas e sábados. Distribuíamos ingressos gratuitos e chegávamos a pedir que nossos amigos e parentes fossem prestigiar. Hoje, os dois dias assumiram uma relevância enorme, pois apenas uma escola sobe para o grupo especial e assim os desfiles são de uma qualidade ímpar com o sambódromo lotado e ingressos vendidos.O mesmo ocorreu com os ensaios prévios que passaram a ser disputados pela grandiosidade.
Os camarotes foram se tornando um atrativo à parte. Hoje, são verdadeiros centros de entretenimento, com mini shows, massagem, louges especiais, serviço de gastronomia nota dez e cada vez com menos personalidades e mais pessoas que conseguem comprar os ingressos que chegam a RS 10.000,00 por pessoa.
Quem vê sucesso dos desfiles, nãoimagina nem um pouco o que acontece nos bastidores. Desde autoridades armadas querendo ingressar com convidados, começo de invasões nos setores, procurados entre os convidados e que desfilam, que acabam presos, vips, alias pseudos que incomodam as frisas desde seus camarotes, vendas exorbitantes pelos ambulantes que precisam ser coibidas e limpeza dos banheiros.
Há um outro problema que são os indicados por políticos para trabalharem no Sambódromo e outros locais. Às vezes, querem apenas a credencial e não o pagamento ou descumprem as regras pré estabelecidas sobrecarregando os funcionários da Riotur,
Um dos maiores desafios é viabilizar a passarela fora do Carnaval. Até hoje as autoridades não conseguiram dar uma serventia real para a mesma. É preciso primeiro que durante todo o ano sejam realizadas visitas guiadas, com possibilidade de compra de souvenires e fotografias fantasiados. É algo fácil que basta apenas gestão e vontade administrtiva.
O Museu do Carnaval, que também durou poucos anos e devemos ao Dr. Hiram Araújo, após sua breve manutenção, deve ser reposicionado, como um local de memória constante. Por outro lado, o setor turístico merece uma reavaliação no formato atual. Os turistas não aguentam assistir todas as escolas ,acabam indo embora antes do final e deixam verdadeiros clarões. Não seria o caso de dividir o espetáculo em dois momentos?
Aqui entre nós, a passarela deveria se chamar Passarela Nestor Guimarães Rocha, se o país tivesse um mínimo de memória e apreço pela verdade e história.
*Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário ,escritor e pesquisador .Vice presidente executivo da Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ