Professora analisa tema da redação Enem 2024: “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”
Um dos dias mais aguardados pelos estudantes do Ensino Médio chegou: a primeira prova do ENEM 2024. Logo após os portões fecharem, o ministro da Educação, Camilo Santana anunciou o tema da redação: ‘Desafios para a valorização da herança africana no Brasil’. Conversamos com Juliana Rettich, Coordenadora e professora de redação do PB Colégio e Curso sobre o tema:
“O Enem, com suas temáticas de redação, tem um caráter pedagógico para toda a sociedade brasileira. Mais um acerto do INEP, porque sabemos que os temas de redação viram pautas para reportagens de diferentes veículos.
Sabemos que temos três matrizes culturais no Brasil, mas ainda vivemos sob o que podemos chamar de colonialidade, um regime de poder que continua a subalternizar os povos racializados, como os povos africanos. Nas nossas aulas de redação, trabalhamos a partir da perspectiva da descolonização e da decolonialidade, discutindo a problemática dos currículos eurocentrados nas escolas e nas universidades. Diante disso, o nosso primeiro desafio é combater o epistemicídio, o assassinato do conhecimento, história e cultura produzidos pelos povos africanos e afrodiaspóricos. Esse apagamento é uma ferramenta de poder para manter no imaginário social a inferiorização dos povos de África o que perpetua o racismo no Brasil. Todas essas questões foram amplamente discutidas nas nossas aulas de redação!
Com isso, temos políticas públicas ainda não tão amplas, desde produção de material didático a formação de professores que saibam contemplar a lei 10.639, que institui o ensino de história e cultura Afro-Brasileira. O outro desafio é superar a ideia de democracia racial no país, que sustenta inclusive movimentos que atrelam o debate a questões ideológicas, levando a uma falsa ideia de que não poderia ser trabalhada na escola tal temática.
Em meio a tudo isso, na nossa sociedade mesmo, fomos convencidos de que a cultura europeia e norte-americana são superiores, vendo os africanos como exóticos e ou apenas na perspectiva da escravidão, como se a história deles começasse com o sequestro do Atlântico. Como já disse Januário Garcia, existe uma história do negro sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem o negro. A África é o berço da humanidade e da civilização, precisamos urgente nos voltar para os registros que temos sobre isso, desde a filosofia à medicina, a África contribuiu com o progresso de toda a humanidade”.