A pressão para definir uma razão que oriente escolhas tornou-se imposição social que influencia trajetórias e expectativas. A psicóloga Maria Klien analisa que essa cobrança altera funções orgânicas e produz sinais ligados à exaustão e desconexão.

“O discurso sobre encontrar propósito virou exigência. Muitas pessoas tentam construir sentido enquanto seus organismos seguem em alerta, e o sistema nervoso prioriza proteção em vez de direção. O corpo não organiza caminhos quando precisa garantir continuidade básica”, disse.

Essa lógica reforça modelos que adotam metas como indicadores de coerência existencial. Maria afirma que tal dinâmica intensifica percepções de inadequação e alimenta ciclos de desempenho sem vínculo com necessidades afetivas e biológicas.

“O sentido não nasce sob vigilância. Ele aparece quando há autorregulação, consciência interna e abertura para que padrões deixem de comandar reações automáticas. Propósito não é descoberta externa. Surge quando sistemas internos voltam a dialogar”, afirmou a psicóloga Maria Klien.

Estados prolongados de tensão comprometem memória, atenção e percepção do tempo. A psicóloga identifica tais manifestações em atendimentos, especialmente em indivíduos que acumulam conquistas sem sentir pertencimento.

“A falta de foco, sono irregular, irritabilidade, cansaço contínuo e vazio no meio de realizações podem resultar de vidas guiadas por demandas externas. Quando o fazer domina relevância, o ser se silencia. Então qualquer promessa de direção vira solução pronta oferecida ao consumo”, ressaltou.

A transformação do sentido íntimo em produto sustenta narrativas que estimulam comparação e autocobrança. Nesse cenário, o conceito de propósito se torna meta linear, ignorando reorganizações constantes que compõem o desenvolvimento humano.

“O propósito acompanha movimento e mudança permanente. Evolui conforme a pessoa se transforma. Aparece quando ações refletem verdade interna e não apenas expectativas externas”, explicou.

Maria sugere novos questionamentos a quem deseja orientação pessoal. Em vez de respostas prontas, indica escuta corporal e simbólica do presente.

“O que importa agora? O que dentro de mim pede coerência neste momento? Quando a vida interna ganha espaço, a direção se revela sem força ou pressão. Propósito é consequência de um organismo que se reconhece e se regula”, concluiu Maria Klien.

A psicóloga destaca que saúde mental envolve práticas que criam condições para acesso contínuo a sentido. O propósito não se estabelece por imposições, mas pelo alinhamento entre necessidades, ações e identificação consigo ao longo do tempo.