Dia Mundial do Bem-estar: como a felicidade tóxica afeta a vida pessoal e profissional

No sábado, 14 de junho, foi celebrado o Dia Mundial do Bem-estar. Criado na Turquia em 2012, sua proposta é conscientizar as pessoas a terem uma vida mais saudável e com significado. Porém, a busca por um bem-estar pleno e uma vida, aparentemente, perfeita tem gerado um efeito adverso: a felicidade tóxica. Ou seja, diante das pressões sociais e do bombardeio de estímulos e informações provenientes das redes sociais, a pressão constante para ser feliz tem deixado as pessoas cada vez mais infelizes.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas no mundo estão ansiosas. No Brasil, 33% da população enfrentam transtornos mentais em níveis graves ou extremamente graves, segundo dados da Vittude.
Renata Rivetti, especialista na ciência da felicidade e fundadora da Reconnect, afirma que vivemos um momento desafiador, no qual o bem-estar e a felicidade são vendidos como uma fórmula mágica nas redes sociais, ou mesmo como resultados de uma sobrecarga de atividades.
Segundo ela, um caminho viável para buscar a felicidade não-tóxica é o equilíbrio. “De forma mais consciente e embasada cientificamente, a felicidade resulta do equilíbrio entre uma vida hedônica, baseada em prazeres e conquistas, e uma vida eudaimônica, pautada por propósito e sentido. Só quando alinhamos satisfação e significado é que encontramos um bem-estar verdadeiro e duradouro”, afirma, em referência aos conceitos do cientista social Arthur Brooks.
A realidade feminina
Por enfrentarem jornadas múltiplas, as mulheres lideram esta mudança, trazendo uma consciência crítica sobre equilíbrio e bem-estar, comprovando que qualidade de vida gera pessoas mais felizes e profissionais mais engajados.
“As mulheres, por vivenciarem jornadas duplas ou triplas e assumirem maiores responsabilidades na vida pessoal, desenvolvem uma consciência crítica sobre a insustentabilidade do trabalho excessivo. Essa experiência as leva a questionar: ‘quem está exausto vai produzir?’”, indaga.
Futuro do trabalho
A origem da palavra “trabalho” vem do latim tripalium, um instrumento de tortura utilizado na antiguidade. Isso por si só já revela muito sobre como, historicamente, a atividade laboral foi associada ao sofrimento e à obrigação.
Desde então, o mundo passou por transformações profundas. No entanto, a nossa relação com o trabalho parece não ter acompanhado esse movimento, explica a especialista.
“Um fator importante na busca pela felicidade é a nossa relação com o trabalho. O mundo mudou completamente nas últimas décadas, mas a nossa relação com o trabalho continua desafiadora”, afirma Rivetti.
Em um cenário corporativo marcado por sobrecarga, desmotivação e conflitos, a desconexão entre expectativas e realidade explica a crise na produtividade: apenas 23% dos profissionais estão motivados, enquanto 77% praticam “quiet quitting” (mínimo esforço) ou “task masking” (fingimento de produtividade).
A solução, segundo Rivetti, está em repensar modelos: ”Está na hora de olharmos mais para habilidades pessoais do que descrições de cargo”.
Sobre Renata Rivetti
Especialista na ciência da felicidade, Renata é fundadora da Reconnect, palestrante, consultora e colunista da Fast Company Brasil. É formada em Administração pela FGV-EAESP, com pós-graduação em Psicologia Positiva na PUC-RS e especialização em Estudos da Felicidade na Happiness Studies Academy, além de possuir diversas certificações em bem-estar e saúde mental no trabalho nas universidades Harvard, da Pensilvânia e outras instituições.