Por Luiz Fernando Folly

Quando Nova Friburgo era ainda somente uma ideia em 1818, D. João VI estabeleceu diversas diretrizes para a futura vila, desde infraestrutura urbana até bem-estar social de seus habitantes. A instrução dos colonos era fator determinante para o sucesso do empreendimento e o rei estipulou que a vila fosse equipada com escolas, jardim botânico e museu, sendo este último, fundamental para a conscientização popular e construção de uma identidade local.

No dia 6 de agosto de 1820, foi realizada uma cerimônia de assentamento das pedras fundamentais dos principais prédios a serem erguidos, incluindo a do museu. A projeção do marco histórico foi acontecimento festivo e concorrido entre a população da pequena vila, testemunhas do significado da solenidade e das esperanças depositadas junto à pedra fundamental: a felicidade individual e coletiva e um futuro promissor para Nova Friburgo.

Todavia, ao longo da história de Nova Friburgo, o museu pensado por D. João VI não passou de um sonho, muitas vezes utópico, tamanha a dificuldade de sua concretização. Mas, hoje, 196 anos depois, esse sonho se realiza: a Fundação D. João VI homenageia a memória de seu patrono ao resgatar sua ideia de manter por meio da fundação o primeiro museu do município de Nova Friburgo, um espaço voltado para preencher a lacuna, de quase dois séculos, da necessidade de interação entre a comunidade friburguense e a sua história.

O museu abre suas portas ao público com a exposição das primeiras peças a compor o seu acervo: as esculturas das Quatro Estações. Doadas à municipalidade no primeiro centenário de Nova Friburgo, as estátuas ficaram dispostas durante muitos anos no coração da cidade e, por esta razão, evocam uma alma histórica como se tivessem sido testemunhas oculares do desenvolvimento de Nova Friburgo, ao mesmo tempo que simbolizam um elo entre o passado e o presente. Além da rara imagem de São Clemente, padroeiro da família do Barão de Nova Friburgo e do Decreto de criação de Nova Friburgo. Como lugar de memória, o museu resguarda e disponibiliza essas peças a fim de permitir que os usuários se apropriem de sua mensagem e reafirmem a própria identidade como parte integrante dessa história.

Nova Friburgo nasceu da inteligência própria ao ser humano e da capacidade que ela lhe dá de dominar a natureza. Os primeiros suíços que aqui chegaram, transpuseram montanhas, desbravaram matas, fizeram nascer da terra o seu sustento. Assim como eles, Antonio Clemente Pinto confiou sua esperança nesse chão, venceu os morros escarpados com a modernidade dos trilhos de trem e testemunhou o triunfo da prosperidade da região. Hoje, muito do esplendor passado se perdeu nos descasos da história: não há mais ferrovia, as voçorocas dominaram a paisagem, memórias não foram cultivadas. No entanto, a herança do que passou ainda persiste através de reminiscências presentes no traçado das ruas, no recorte das casas antigas, na fisionomia dos rostos que habitam a cidade. Todos esses elementos, mesmo que camuflados no dia-a-dia, permitem que Nova Friburgo viva de seu passado, transformando sua própria história em monumento. O conhecimento e a preservação da memória dos feitos das mulheres e dos homens que construíram Nova Friburgo é fundamental para entendermos nosso presente. Presente este que ainda pode vir a ganhar maior importância e significado se passarmos a enxergar e decifrar seu testemunho.