Alaíde Costa e Guilherme Arantes se unem em interpretação pungente do clássico “Meu Mundo e Nada Mais”
Clássico indiscutível da música popular brasileira lançado em 1976, “Meu Mundo e Nada Mais” acaba de ganhar uma nova versão. O single une a cantora carioca Alaíde Costa, diva revelada no movimento da Bossa Nova, e o paulista Guilherme Arantes, autor e intérprete original da canção, em dueto de vozes e piano. A gravação intimista aconteceu em 6 de dezembro de 2023 sob produção de Marcus Preto.
Ouça aqui: https://links.altafonte.com/meumundoenadamais
“Eu sempre adorei essa música e tinha vontade de fazer minha gravação há muito tempo”, conta Alaíde, que chegou a ensaiar “Meu Mundo e Nada Mais” para uma canja em show do próprio Guilherme Arantes, no Blue Note de São Paulo. “Mas, no dia do show, acordei rouca e acabei só assistindo o Guilherme cantar. Naquele momento, a vontade de gravar a minha versão só aumentou. Essa letra tem tudo a ver comigo.”
Fã inveterado de Guilherme Arantes desde a adolescência, o produtor Marcus Preto articulou a parceria. Aproveitando uma passagem Guilherme por São Paulo (ele hoje mora em Ávila, na Espanha), levou o compositor e a cantora ao Arsis, estúdio que hospeda um belo piano de cauda. E, em apenas três takes, chegaram à versão final do dueto.
“Guilherme Arantes é um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, um gênio, e se conectou completamente ao universo de Alaíde”, diz Marcus Preto. “Ela é uma intérprete das que gostam de músicas tristes – e só das tristes. Portanto, essa canção caiu perfeitamente na voz e no universo alaideano. O mais maluco é a gente pensar que se trata de uma composição escrita no final dos anos 1960 por um adolescente e que agora ganha o peso da voz de uma artista de 88 anos. A canção é tão consistente que tem igual força nas duas pontas dessa linha do tempo. Só as obras-primas conseguem tanto.”
Guilherme afirma que o encontro com Alaíde foi um momento muito aguardado por ele, pois, ao longo de muitos anos, acalentou o sonho de se aproximar dessa ala da MPB. E de Alaíde em especial, dada a trajetória da cantora em momentos que pontuaram a juventude do compositor, desde “O Fino da Bossa”, programa fundamental da TV Record nos anos 1960, até a participação dela no álbum do Clube da Esquina.
Ele conta que compôs “Meu Mundo e Nada Mais” no ano de 1969, sob o impacto do festival Woodstock, marco musical, cultural e comportamental daquela geração. “Essa canção é um manifesto da minha revolução pessoal”, diz. “Em vez de estar nos movimentos políticos estudantis, eu ia em busca desse ‘meu mundo e nada mais’, que celebro agora ao lado de Alaíde, uma intérprete que imprime uma emotividade absurda, a escolha fulminante para uma música que começa com os versos ‘quando eu fui ferido, vi tudo mudar’.”
Pianista na faixa, Guilherme Arantes conta que tentou abrir o maior espaço possível na harmonia para chegar a uma levada “mais bluseira, mais Mississipi, na raiz do gospel americano”. “Isso produziu uma sensação ‘em suspense’ dos acordes e, em consequência, dos versos da música, dando à gravação uma carga mais dramática”, conclui.
“Meu Mundo e Nada Mais” ganhou uma capa assinada pelo quadrinista Camilo Solano, um dos grandes nomes da nova geração brasileira, que aproveitou registros caseiros do encontro de ambos no estúdio para criar seu quadrinho.
O single chega para coroar a relação pré-existente de Alaíde e Guilherme, já que a intérprete lançou uma canção inédita do compositor em 2012. “Berceuse” foi escrita especialmente para ela e é um dos destaques do aclamado “O que meus Calos Dizem sobre Mim”, produzido por Emicida, Pupillo e Marcus Preto, e vencedor do troféu de Melhor Álbum de MPB pelo Prêmio da Música de 2022, entre outras condecorações.
Aliás, em paralelo ao single com Guilherme Arantes, Alaíde segue em estúdio gravando repertório inédito para um segundo álbum com os mesmos três produtores – Emicida, Pupillo e Preto – que também tem lançamento previsto para 2024.