Foto: Cristina Almeida

Recorte de um único e intenso dia na primavera londrina de 1934, o espetáculo “Sra. Klein”, que teve ingressos esgotados em São Paulo e no Rio em 2023, faz duas inéditas apresentações no Teatro Imperial, em Petrópolis, nos dias 27 e 28 de abril. Embora ambientado há quase 90 anos, o texto do autor inglês Nicholas Wright — com adaptação brasileira de Thereza Falcão — segue atual, como atesta o diretor, Victor Garcia Peralta. “A história é sobre uma família disfuncional, a relação tóxica entre mãe e filha. O público vai se identificar demais porque sempre há dificuldades nesses vínculos”, explica ele, que já havia montado o texto há 33 anos, na Argentina.

As histórias familiares da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) exercem fascínio no mundo todo e a peça já foi encenada no Brasil duas vezes — nos anos 1990, com Ana Lúcia Torre, e, em 2003, com Nathália Timberg à frente do elenco, ambas sob a direção de Eduardo Tolentino de Araújo. Foi ao assistir à segunda montagem de Tolentino que Ana Beatriz Nogueira desejou pela primeira vez viver a personagem-título. Vinte anos depois, a tarimbada atriz está realizando este sonho ao lado de Natália Lage e Kika Kalache.

“É um texto muito bem feito, que remete aos clássicos em termos de estrutura, e com o qual o público se identifica demais. Eu me lembro que fiquei com a peça na cabeça desde que a vi. Pensei comigo: ‘Quando for mais velha, eu quero fazer’. A gente deseja fazer certos papeis mais velhos, com a idade da personagem, embora em teatro tudo seja possível. Só que é mais interessante estar mais madura como atriz”, comenta Ana Beatriz Nogueira, também produtora da peça, feliz com o retorno.

A atriz mergulhou numa longa pesquisa sobre a obra e a personalidade da psicanalista. “Essa peça é mais sobre lidar com a vida do que com a morte, e isso inclui, claro, questões cotidianas e os lutos das nossas certezas e crenças”, explica.

Para Natália Lage, que interpreta Melitta, filha de Klein, o gatilho da peça está nos conflitos entre mãe e filha, o fio condutor do espetáculo. Neste recorte, ambas as personagens precisam encarar a morte de Hans, o filho/irmão mais novo que acaba de morrer. “A relação das personagens não tem nada a ver comigo e a minha mãe, mas, às vezes, esbarra em algum lugar. Como a Klein testou seu método psicanalítico nos dois filhos, a Melitta se sente violada na sua intimidade, questiona essa mistura de vida pessoal com profissional, e entra numa trilha de vingança. Então temos uma lavação de roupa suja das boas”, conta Natália.

Há ainda um terceiro vértice nessa discussão: Paula, personagem de Kika Kalache, que ora tende para o lado de Melitta, sua amiga, ora para o lado de Klein, de quem é discípula. “O encontro das três é forte. A minha personagem é muito observadora, tem menos embates, pois é mais contida. Paula acaba tendo um ponto de vista da história parecido com o do público”, explica Kika.

Nesta sua nova encenação, Victor Garcia Peralta seguiu um caminho mais contemporâneo: “Os figurinos da Karen Brusttolin remetem aos anos 1930, mas também dialogam com a moda de hoje. Temos três mulheres e 18 cadeiras em cena, é como um quebra-cabeça. Acho curioso que essas três analistas, tão experientes em ouvir o outro e tratar das questões de seus pacientes, não conseguem se ouvir e ver o óbvio da questão que estão enfrentando. Em muitos momentos, o humor delas sarcástico é maravilhoso “, observa o diretor.

SERVIÇO

Teatro Imperial. R. Mal. Deodoro, 192 – Centro, Petrópolis – RJ, 25620-150.

Sáb, às 20h. Dom, às 18h.

CLASSIFICAÇÃO: 14 anos

DURAÇÃO: 90 min

CAPACIDADE: 525

ACESSIBILIDADE: sim

GÊNERO: drama/ suspense