Foto: Carlos Mafort

Nós não somos obrigados a concordar com o que resultamos. Mas somos o somatório daquilo que vivemos. Somos aquilo que vivemos e aquilo que fazemos com o que vivemos; a forma como nos referimos, como nos comunicamos, como percebemos e julgamos situações.

É claro que vem textão! Quando soube que o empreendedor Dado Macedo Soares (meu irmão de coração) havia criado o Brew BarBQ Pub, ali na Ponte da Saudade, ao lado do Hotel Bucsky, num primeiro momento me assustei. Marido da estilista Renata Aguilera, viveu os últimos anos no mercado da moda, mundo diverso da alimentação. Mas logo me lembrei que Dado era neto da Dona Irene, a minha avó Irene do Park Hotel. E comecei a imaginar aonde essa nova aventura iria dar.   

Em 1963, Irene Peterdi, de origem húngara, tornou-se arrendatária do Park Hotel – obra do arquiteto Lúcio Costa -, por um longo período que se estendeu até 1999, durante o qual trouxe para o restaurante a marca da culinária húngara, sobretudo de sua refinada patisserie. O atendimento, então, era algo inimaginável.

Ela deu destaque especial ao restaurante, introduzindo um buffet frio e especialidades húngaras, ao mesmo tempo mantendo a culinária mais convencional e dedicando-se, pessoalmente, à produção diária de deliciosas sobremesas. Em pouco tempo, o hotel era referência para outras regiões além do Rio de Janeiro e de Nova Friburgo.

O “Hotel da D. Irene” recebeu personalidades notáveis que se hospedaram no Park Hotel. Do meio político, Artur da Távola, Luiz Paulo Conde; do cinema, televisão e das artes, Carlos Manga, Harry Stone, Jô Soares, Ida Gomes, Beatriz Veiga, Leoni e sua família, a estrela Elis Regina, Di Cavalcanti, Artur Moreira Lima, Paulo Sergio Valle, Paulo Rónai, o joalheiro Alberto Sabino, João Araújo, da  Som Livre , o pai do Cazuza, a família Paula Machado, o Chef José Hugo Celidônio, entre tantos outros.

Não é difícil imaginar que o Dado Macedo Soares, neto de D. Irene, tenha acumulado tantas experiências observando, desde muito pequeno, aquele templo da gastronomia e do bem receber. Daí que o sucesso do  Brew Bar BQ se justifica diante do seu cardápio – fruto de muitas experimentações, vivências em viagens internacionais-, além das receitas de família, verdadeiro arsenal arqueológico e da arte de bem receber, mesmo em tempos de delivery.

Eu provei no fimde o prato do Festival Quatro Estações – Edição Inverno , do Brew Bar BQ.  O intitulado Lomo Relleno, composto por dois steaks de mignon na Parrilla à lenha,  recheado de queijo emental e presunto de Parma, acompanhado de purê de baroa com gorgonzola e arroz de vinho com alho poro.  É incrível o aroma! Levemente defumado, com notas do Parma combinadas ao Emental, que se manifestam ávidas pelo vinho que dá sabor de destaque ao prato.

De sobremesa, a torta Dobos, um clássico do Park Hotel, um pão de ló húngaro, em camadas, com creme de manteiga de chocolate e coberto com caramelo. O bolo em camadas tem o nome de seu inventor, o chef húngaro József C. Dobos, proprietário de uma delicatessen em Budapeste. Lá, ela se tornou a torta favorita dos imperadores Elisabeth e Franz Joseph I, do Império Austro-Húngaro. E aqui, eu amo!

Eu não sou um especialista em gastronomia. Mas fui criado e freqüentei, parte da juventude, o Park Hotel. Tive a honra de conhecer a cozinha daquela a quem me refiro, carinhosamente, como Vó Irene, onde aromas e sabores rasgavam os espaços, ambientados com sua doçura e afeto.  Sinto saudades. Guardo as melhores lembranças. E, vez por outra, é no Brew Bar BQ que me renovo e me refaço.