Burnout, depressão e ansiedade: os desafios da saúde mental na medicina

Segundo Dr. Evaldo Stanislau, médico infectologista e professor na Universidade São Judas / Inspirali, ecossistema que atua na gestão de 15 escolas médicas em diversas regiões do Brasil, o não diagnóstico e tratamento destas condições deve ser considerado um problema de saúde pública, dadas as suas implicações e impacto na força de trabalho. “Uma das principais barreiras é que nós, médicos, normalizamos a falta de autocuidado e os elevados níveis de stress. Além disso, rotulamos e estigmatizamos os diagnósticos de doenças mentais e a rotina de trabalho dificulta muito o acesso ao tratamento. Muitas estratégias podem ser adotadas para enfrentar esse problema, porém, a principal, é a da eliminação das barreiras ao tratamento”, conta Stanislau.
Estudos internacionais apontam que a prevalência de transtornos mentais entre médicos é alarmantemente alta. Uma pesquisa publicada pelo Journal of the American Medical Association (JAMA) revela que cerca de 27% dos médicos apresentam sintomas de depressão, enquanto 17% relatam ansiedade. A taxa de suicídio entre médicos também é significativamente mais elevada do que na população geral. Um artigo publicado no British Medical Journal (BMJ) revela que médicos têm 1,4 vezes mais probabilidade de cometer suicídio do que a população geral. Além disso, entre 8 e 15% fazem uso abusivo de substâncias.
Diante da preocupante situação, algumas instituições de ensino realizam programas para dar suporte psicológico, apoio e estímulo a futuros médicos, já durante o curso de medicina, como é o caso da Inspirali. O ecossistema disponibiliza, em suas 15 escolas, o Projeto Angatu, iniciativa coordenada por psicólogos e educadores que visa promover a saúde mental entre os estudantes de medicina oferecendo acolhimento individual, check-up de saúde mental, conteúdos psicoeducativos e grupos de acolhimento por pares, visando melhorar a qualidade de vida e fortalecer suas relações interpessoais.
“Sou professor e coordeno uma faculdade de medicina. Sei bem o que tudo isso representa e, por isso, reforço, desde cedo, que temos que gerir bem nosso tempo, as prioridades e sempre lembrar que, quem não está bem, não consegue cuidar bem dos pacientes. Por isso, não é egoísmo, mas necessidade que o médico primeiro cuide de si para depois cuidar do outro. Minha rotina de trabalho, por exemplo, só começa depois que cuido de mim, com atividade física regular, que escolhi como meu autocuidado. Estimule seu médico a também se cuidar. Todos ganham”, finaliza Evaldo.