Como se proteger de crimes cibernéticos?
Hoje, é difícil encontrar pessoas que façam pagamentos de produtos, serviços ou contas de consumo com dinheiro vivo, principalmente nos grandes centros. Conforme a última edição do documento Instrumentos de Pagamento – Dados Estatísticos 2023, do Banco Central, a utilização dos telefones celulares se tornou o principal canal de pagamento no Brasil, respondendo por 82% da quantidade total transacionada no ano. Além disso, o documento mostra também que o Pix foi o segundo maior meio para os pagamentos em 2023 no país, com 39% do total, atrás apenas das transações com cartões (crédito, débito e pré-pago), cuja participaç&atil de;o foi de 41%.
Assim como aumenta a adesão dos brasileiros aos pagamentos digitais, também cresce o número de vítimas de crimes cibernéticos. “Vivemos em um mundo onde há um crescimento acelerado no número de ameaças à segurança cibernética por ataques sofisticados com poder, recursos e alcance global sem precedentes”, alerta a cientista da computação Michele Nogueira.
Uma pesquisa inédita, feita pelo DataSenado em parceria com o Nexus e divulgada nesta semana, que entrevistou mais de 21 mil brasileiros, revela que 25% dos brasileiros foram vítimas de golpes digitais só nos últimos 12 meses. São Paulo lidera em vítimas, com 30% da população do estado. O segundo estado com maior incidência é o Mato Grosso (28%), seguido por Distrito Federal (27%), Roraima (27%) e Espírito Santo (26%). Entre os golpes estão clonagem de cartão, fraudes na Internet ou invasão de contas bancárias.
Três estados da região Nordeste são os com menor incidência de vítimas desses golpes: Sergipe (19%), Piauí (18%) e Ceará (17%). O resultado pode ser consequência do fato de as regiões Norte e Nordeste do Brasil terem a menor penetração de tecnologias digitais, de acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS).
A pesquisa também aponta que moradores de cidades de médio porte, entre 50 e 500 mil habitantes, são a maioria das vítimas dos estelionatários virtuais, com 41% delas, seguidas de quem mora em cidades grandes, com mais de 500 mil habitantes (32%) e de municípios pequenos, com menos de 50 mil moradores (26%).
Maioria das vítimas nasceu na Era Digital
Esse é o levantamento o mais amplo já feito sobre o assunto, que mostra também que quem nasceu na Era Digital e não conhece a realidade sem uso de Internet é a maioria das vítimas de crimes virtuais: 27% delas tem entre 16 e 29 anos. E, ao contrário do que se imaginava, as pessoas mais velhas são as que menos caem em golpes, 14% têm entre 20 e 59 anos e 16% mais de 60 anos, talvez por terem menor adesão ao uso serviços bancários on-line.
A pesquisa também apontou que 51% das vítimas ganham até dois salários mínimos, 35% ganham de dois a seis salários e apenas 14% recebem mais de 6.
A maioria das pessoas que teve cartão clonado, sofreu fraudes na Iinternet ou invasão de contas bancárias em 2023 (35%) tinham ensino médio completo, seguido por quem tinha ensino superior incompleto ou mais (29%), ensino fundamental incompleto (22%) e ensino fundamental completo (15%).
Como não ser vítima de crime cibernético?
A cientista da computação, Michele Nogueira explica que população enfrenta várias dificuldades ao tentar se proteger de crimes cibernéticos. Essas dificuldades decorrem tanto da complexidade inerente da tecnologia quanto da falta de recursos e conhecimentos necessários para lidar com as ameaças. Mas é possível reverter essa situação usando medidas simples, como a escolha das senhas. “O ideal é evitar senhas óbvias, como datas de nascimento ou palavras comuns. Também deve-se escolher senhas diferentes para cada uma das contas online. Isso garante que, se uma senha for comprometida, as outras contas permaneçam seguras. E para não esquecer as senhas, pode-se usar um gerenciador de senhas para armazenar e gerar senhas fortes de forma segura, sem a necessidade de memorizá-las”, explica Michele Nogueira.
Ela ainda alerta para a importância da autenticação multifator, que pede uma segunda forma de verificação, como um código envido ao telefone ou um aplicativo de verificação. Além disso, é importante revisar regularmente as atividades das contas bancárias, de crédito e online para identificar qualquer transação ou acesso suspeito. “Configure os alertas de conta que notifiquem sobre atividades incomuns, como tentativas de login de novos dispositivos ou transferências financeiras grandes”, destaca a cientista da computação.
Outra medida é manter o sistema operacional, aplicativos e software de segurança sempre atualizados para proteger contra vulnerabilidades exploradas por hackers, usando programas antivírus. “Além disso, desconfie de e-mails, mensagens de texto ou links inesperados, especialmente se solicitarem informações pessoais ou financeiras. Verifique sempre a autenticidade antes de clicar ou fornecer dados. Se alguém solicitar informações sensíveis via e-mail ou telefone, confirme a identidade do solicitante por outro meio, como um telefonema direto para a organização”, orienta ela.
Wi-fi disponível: usar é seguro?
Já é rotina de quem usa Internet quando se chega a algum lugar, verificar a disponibilidade da Internet. Mas Michele Nogueira alerta que nem sempre usar sinal compartilhado é vantajoso. “Sempre que possível, evite realizar transações ou acessar informações sensíveis quando conectados a redes Wi-Fi públicas, que são mais suscetíveis a ataques. Utilize uma Rede Virtual Privada (VPN) ao acessar a Internet em redes públicas. As VPNs criptografam sua conexão, tornando mais difícil para os atacantes interceptarem seus dados”, explica ela.
Ao adotar essas medidas, as pessoas podem fortalecer significativamente a proteção de sua identidade digital e reduzir o risco de se tornarem vítimas de crimes cibernéticos. “A combinação de práticas seguras, monitoramento ativo e uma atitude consciente em relação à segurança online é fundamental para manter a identidade digital segura”, finaliza Michele Nogueira.
A cientista da computação Michele Nogueira
Michele Nogueira atua nas áreas de redes de computadores, segurança de redes e privacidade dos dados, e é especialista no ataque DDoS, sofrido pelo STF, pode repercutir os ataques sofridos pelas instituições. Ela tem doutorado em Ciência da Computação pela Sorbonne Université – França e Pós-doutorado na Universidade Carnegie Mellon (CMU), Pittsburgh, EUA.
É membro sênior da Association for Computing Machinery (ACM) e do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) em reconhecimento à sua liderança e contribuições técnicas e profissionais.
É professora associada do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e é membro permanente do programa de Pós-graduação em Ciência da Computação.
Dedica-se a pesquisas com o foco em criar inteligência de segurança cibernética embasada em técnicas de inteligência artificial e ciência de dados com aplicações em vários setores da sociedade.