Muito ouço falar da pandemia sobre vários aspectos, mas, desconheço quem tenha sido tão ousado em falar da beleza de tudo isso. Talvez por medo de ser considerado otimista irracional ou até um aproveitador filosófico. Contudo, os conceitos do estoicismo me levam a enxergar o momento através de outro aspecto. Insisto em pensar que o caos precede a mudança, portanto, algo me leva a crer que após tantos anos vivendo numa sociedade caótica, dias melhores estão por vir.

Partindo desse princípio, resolvi compartilhar com você, caro leitor, um texto que fala sobre mim, mas também sobre você. Sobre nosso mundo interno e particular, que recusamos deixar transparecer por acreditar tão cegamente ser uma máscara.

Sim, me refiro à máscara social. Se não fosse ela para me proteger, eu estaria descoberta e desnuda, diante da sombra da maldade humana. Porém, a mesma máscara que me protegeu até aqui, também me aprisionou. Roubou sonhos, planos e, pouco a pouco, a minha existência. E por medo, defesa, vergonha, tristeza, crenças – são muitos os motivos – com ela, me mantive “segura”, alheia a minha essência.

Foi assim, até que um dia aconteceu um evento tão perturbador e, ao mesmo tempo, tão desafiador, que, não tendo outra escolha, tivemos que conviver com nós mesmos.

Em nossas casas e apartamentos, nos despimos de nossa máscara social para iniciar um longo período de vivência intrapessoal.  A rotina posta de lado, abrindo espaço para uma nova realidade.

Percebi, leitor, que não deixamos muito a vida fluir. Criamos metas, planejamos tudo, cada detalhe, tornando nossos dias mecânicos e monótonos. Não sobrando tempo para a criança que fomos, para os sonhos “impossíveis”, para os deliciosos imprevistos, para o banho de chuva ou para aquelas conversas filosóficas que duram horas. Arquivamos ansiedades, embrulhamos medos e nos entupimos de medicamentos para podermos carregar todo esse peso. Afinal, não tínhamos tempo de lidar com as nossas fragilidades.

Viajei para dentro de mim. Deixei fluir e, sem pressa, aproveitei o momento presente. Confesso que no começo não foi fácil, mas passei a apreciar todos os dias e, desde então, venci muitos medos, derrubei muros, fiz as pazes com o passado e decidi, a partir de então, perseguir todos os meus sonhos.

Tenho deixado fluir cada vez mais e, parece que pouco a pouco, tudo que antes me incomodava, está perdendo a sua importância, tornando-se banal. Vivo cada dia como se fosse único, pois de fato ele é.

O vírus me fez perceber que a liberdade não está lá fora.

Agora, eu te pergunto: Quem você quer ser quando tudo isso acabar?

Bárbara Gouvêa, friburguense, é mercadóloga, escritora, coach produtora de conteúdo na internet. Formada em marketing e estudante de administração pela UFRRJ. Autora do romance de época Samsara (2018).