Se tem coisa incômoda na vida das pessoas, além de cama com farelo de biscoito, borracha sumida no sofá e pilha gasta no controle remoto, é falta de resposta. Não, não estou falando da falta de retorno no Whatsapp, essa neurose recente da qual felizmente não sofro: Já visualizou e não respondeu! Olha aqui os dois tracinhos azuis! –Haja paciência…

Estou falando da falta de resposta para aquilo que não damos conta, que nos assusta e ameaça, que não sabemos a causa, a cura, o como vai ser. Meu Deus, o que é isso?, Pai do céu, por quê?, ou simplesmente Whatthefuckisthat?e sua tradução literal para o português.

Tirando aquelas três perguntinhas existenciais – quem sou, de onde vim, para onde vou? – para às quais não há mesmo solução (não confundir solução com especulação) e, portanto, deixa pra lá…, para várias outras perguntas seria bom ter respostas. Racionais, científicas, comprovadas ou, então, boca fechada.

Claro que me refiro à atual pandemia, e por acaso tem alguém falando de outro assunto? Só que, quando ouço as pessoas falando sobre sua causa, quando leio algumas reportagens, alguns editoriais, ou assisto a debates e lives (não, lives, não, mentira. Odeio lives), o que mais percebo são teorias com boa carga de subjetividade:

Trata-se de um vírus desenvolvido in vitro na China, sugerem alguns da ala conspiratória para quem, me parece, nada mais há no mundo além de interesses econômicos. Tá aqui! Tá na Bíblia!, diz a ala fundamentalista inflada de pestes e gafanhotos. São esses chineses que ficam comendo morcego, diz a turma eugenista. Isso é uma resposta do meio ambiente aos maus tratos que vem sofrendo há anos, sugerem alguns ambientalistas. É tudo um grande exagero, é só uma gripezinha, afirmam os negacionistas.

Não estou dizendo que, em algum momento, eu não tenha tido a curiosidade de buscar mais sobre algumas dessas e de outras tantas teorias.  Vai quê, né? Mas até então, excetuando o fato de não termos certeza de quase nada no que se refere a essa pandemia, nada mesmo parece ter base sólida. Portanto, se a Ciência, a que tem a propriedade de investigação da qual precisamos, a que vem pesquisando, trabalhando, tateando, ainda não tem respostas, o que nos resta é aprender a conviver com o incômodo da falta. E o da espera.

Que venha logo a vacina e, junto com ela, o conhecimento das causas. Para não haver novas rodadas, novas mortes, novas crises, novas angústias, novos estresses, novas teorias, nova onda de lives. Tenhamos todos paciência.

Ana Beatriz Manier nasceu em Niterói, tem coração gaúcho-pelotense,
mas fincou raiz em Nova Friburgo. Formou-se em Administração de Empresas e Letras, especializou-se em Língua Inglesa, Literaturas de Língua Portuguesa e Tradução. Em 2001,começou a trabalhar como tradutora no mercado editorial carioca e em 2011 como escritora. Em 2017, tornou-se publisher e representante legal da In Media Res Editora,  em Nova Friburgo.

Entre seus trabalhos como tradutora estão traduções de autores como
Robin Pilcher, Nora Roberts, Mary Rourke, DeeShulman. Como escritora, os infantis Astrobeijo (Ed. Cubzac) e “Não fosse um repolho…” (In Media Res Editora), a biografia de marca Ó, o Globo! A história de um biscoito (Editora Valentina), e o romance Te ajudarei a ir se quiseres (InMediaRes Editora).