Por Bayard Boiteux

Fonte: Diário do Turismo/ 07/07/2024

O etarismo é hoje uma realidade no mercado laboral que não podemos desconsiderar. Ele vem carregado de uma carga pesada de insumos negativos por um RH que desconhece as características de empregabilidade e vive um modismo de contratar pessoas mais jovens, muitas no início de suas carreiras, sem nenhuma experiência e com objetivo em pagar salários menores. Aliás é o que fazem também com pseudos estágios em que se aproveitam de uma mão de obra ávida por colocar em prática conhecimentos teóricos, para desenvolver ações operacionais no lugar de pessoas com carteira assinada.

Hoje, ao completar 47 anos ininterruptos de trabalho me pergunto quais os melhores caminhos e desafios que devemos empreender. A resposta está num trabalho conjunto de pessoas de todas as idades, respeitando suas aptidões, crenças e formas de colaboração. Há 35 anos sou gestor e tenho buscado equipes cada vez mais plurais não só na idade mas nas opções de gênero e de pensamento. Lembro que comecei minha vida acadêmica com 23 anos e já coordenava um curso superior de turismo aos 25. Rejuvenesci o corpo docente e as lideranças acadêmicas e consegui fazer com que professores mais experimentados aceitassem o desafio do trabalho conjunto. Vi meu pai trabalhando até os 80 anos e entendi que não poderia parar nunca. Quando ficamos em casa sem fazer nada morremos aos poucos e ficamos distanciados da realidade. Há pessoas, cujo tempo livre é tão grande que se resume a participação de aniversários e almoços criando uma vida distanciada da realidade.

Acredito que a primeira arma para sobrevivência profissional é nunca parar de estudar. Conseguir sempre um tempo para atualização e reciclagem através de cursos de extensão e pós-graduações, tanto lato sensu como mestrados e doutorados. Ninguém sabe tudo e cada um de nós precisa ter humildade de abrir nossa cabeça para as novidades. O mundo hoje é dominado pela tecnologia e nos adequar as novas metodologias é fundamental. Somos seres em movimento. Sem nunca nos descuidarmos de nossa saúde e de nossa capacidade física com treinos semanais de sobrevivência.

Curiosidade

Outro medicamento crucial é a curiosidade por novas culturas, novos idiomas e novas formas de encarar o mundo do trabalho. O novo gestor não é um chefe e não vem imbuído de um sentimento de mera hierarquia. Trata-se de um gestor de talentos, que tenta viabilizar sua administração com participação efetiva de cada membro. Muitas empresas abriram os espaços laborais em grandes salas onde as equipes convivem e interagem. Penso sinceramente que viajar traz um constante sentido de sobrevivência quando estamos abertos a nos hospedar em locais diferentes, usar transporte público, conversar com as pessoas nas ruas e vivenciar todas as experiências. Tenho orgulho de ter me hospedado em albergues da juventude, comido em mercados de rua, tomado banho em voos, conseguido dormir nas low-cost e viajar num apartamento. Minha formação nasce justamente de tantos momentos que se complementam. Aprendi também que o benchmarketing é vital, assim como dividir nossos conhecimentos em palestras, artigos e livros. Como gosto de escrever e como minha luta diária por um mundo melhor se baseia na palavra e nas opiniões, mesmo que as mesmas possam contradizer o senso comum e as autoridades. A coragem de se posicionar faz parte da ética. Nenhum conselho administrativo ou jeton pode nos calar.

Hoje, chegando aos 65 anos, não paro de me reinventar e viver cada momento como algo novo. Não há nada pior do que a rotina sem nexo que assola alguns. Vivo uma forma de agregar valor a construção de novos desafios com trabalho em equipe e o reconhecimento de valores e luzes que podem mudar os rumos de um mundo que parou no tempo. Combater o etarismo é sim um de nossos objetivos, sabendo que a palavras chaves são Reciclagem, Solidariedade, Integração e Resiliência.

*Bayard Do Coutto Boiteux é escritor, professor e pesquisador –  www.bayardboiteux.com.br