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Ainda me lembro do taxi, um Aero Willys azul céu, que nos levava – a mim, meus pais, irmãos-, ao Clube dos Lavradores, a “Casa do Pau Torto”, uma vez ao mês e, após brincadeiras, curiosas descobertas, e o afago gentil do Sr. José Barroso, seguíamos para almoço no Bambuzinho, restaurante onde era possível saborear o mais bem feito coelho do universo, como dizia meu saudoso pai.

O lavrador José Pires Barroso tinha sua propriedade rural ali. Cravada entre as montanhas de um Cônego pouco habitado. Plantava leguminosas, frutas, flores, hortaliças e se dedicava igualmente à apicultura e criação de carpas. Era um homem simples que amava o que fazia e dividia seu mundo com outros tantos.  Era comum encontrar os artistas da época, Ivon Curi, Rodolfo e Lourdes Mayer, Álvaro Aguiar, Elizeth Cardoso, entre outros, por lá, desde que as primeiras casas foram construídas no Parque Santa Terezinha, também chamado Bairro dos Artistas.

Há tanto a ser lembrado! Mas nossas memórias parecem ter sido concretadas sobre aço, fazendo ocultar essas doces lembranças, reminiscências de uma Friburgo que de nova só mesmo a “via que expressa hoje facilidade”, mas nos faz esquecer de um homem como José Pires Barroso, que abria clarões e caminhos na mata para escoar produção e acendia a fogueira no coração dos friburguenses em suas festas juninas e festivais de quadrilhas. Onde foram parar as nossas memórias? Onde estão adormecidas?

Descobri esta semana que estão lá no prédio da velha estação! Na casa do povo, tratada “Palácio” por coisa nenhuma! Estão no prédio embalado para presente.  Vestido de Natal com a singeleza de um missionário da beleza, da estética e da arte, que afeita o ser humano. Nos faz melhor!  Transforma e revigora!

Estão nas guirlandas de flores, cuidadosamente arranjadas, por miguês em palheta de cores suaves que nos remetem aos produtores de Vargem Grande à Vargem Alta! No espantalho que nos lembra dias de sol intenso e nuvens de pesadas chuvas que destruíam o futuro viçoso de grãos, sementes e mudas. Nos chapéus de palha desses homens de faces marcadas, riscadas de terra, de barro-tinta, que escreveram com suas histórias de vida caminhos futuros para o povo friburguense. Estão lá!

No Papai Noel debruçado na varanda, trazendo buquês de hortênsias que nos fazem viajar no tempo…ah! … as nossas hortênsias! Ou as gérberas suntuosas que se equilibram sobre delicadas hastes, como a vida, nossos sonhos, desejos…

O friburguense Oney Barroso trata Nova Friburgo como deveria ser por todos nós que aqui habitamos. Com dignidade! Revira as gavetas de afetos escondidos, vasculha nossas almas, folheia os álbuns de família, com sua sensibilidade à flor da pele. Humildade franciscana que não admite um elogio. Pede silêncio. Reflexão. Carinho com a coisa de todos.

Nova Friburgo é de todos nós! E quando olhamos para trás e bebemos da nossa própria história, nos fortalecemos para quebrar essa cadeia improdutiva do ódio a que estamos nos acostumando e, com isso, apagando nosso passado, presente, futuro.

Eu não me contive ao ver o trabalho magnífico do Oney Barroso, amigo querido, e corri para buscar palavras que pudessem ressignificar uma decoração natalina, aparentemente tão óbvia, em tempos de banalização da crítica.

Vou guardar essa fachada de bolas, fitas e flores nos olhos do coração. Cada arremate, cada galho seco, a bicicleta do Chico, o entremeio de frutas, os laços que estreitam amizades e tornam-se nós para vida inteira!  Os chapéus de palha! Eu queria tanto que todos pudessem viver um Natal como esse. De beleza e afeto! De mesa farta e dignidade! De amor e sonhos!

Gratidão ao menino que hoje cresce através da arte do Oney Barroso – o neto do velho José Pires Barroso-, que nos dá uma aula de amor à Nova Friburgo, por suas mãos fortes, sua alma intensa, sua missão de nos encantar com o belo. Eu queria que todo dia em minha cidade fosse assim! Obrigado, Oney Barroso e ao prefeito Johny Maycon Cordeiro Ribeiro por este presente! Se há patrocinadores, gratidão a eles! Que Nova Friburgo renasça no amor!