Lavar as mãos, escovar os dentes e limpar bem os alimentos antes de consumi-los. Parece básico, e é, mas a verdade é que esses hábitos simples, muitas vezes negligenciados, continuam sendo a barreira mais eficaz contra uma série de doenças infecciosas que ainda circulam amplamente na população.

A infectologista Dra. Michelle Zicker, do São Cristóvão Saúde, reforça: “A higiene pessoal é um pilar da prevenção. Lavar as mãos antes das refeições, ao chegar em casa, após usar o banheiro ou lidar com lixo e dinheiro, é uma atitude pequena com grande impacto”.

Durante a pandemia de COVID-19, a importância da higiene das mãos ganhou destaque como nunca antes. Mas, passados os anos mais críticos, esse cuidado voltou a ser esquecido por muitos. “Houve um aumento na conscientização durante a pandemia, mas infelizmente o nível de adesão caiu. É fundamental reforçar essa prática no cotidiano”, diz a médica.

Doenças comuns e evitáveis

As doenças mais comuns ligadas à má higiene incluem as temidas gastroenterites — causadas por vírus, bactérias ou protozoários — e também infecções urinárias, infecções de pele, cáries e até abscessos dentários. “São condições muitas vezes evitáveis com ações simples de higiene pessoal e ambiental”, ressalta.

Escolas, escritórios, academias e o transporte público são locais com alta circulação de pessoas e, por isso, exigem cuidados extras. Higienização frequente das mãos, ventilação adequada, limpeza das superfícies tocadas com frequência e uso de máscaras por pessoas com sintomas respiratórios são medidas essenciais para evitar surtos.

Pessoas mais vulneráveis, como idosos, imunossuprimidos, gestantes e portadores de doenças crônicas, devem redobrar a atenção. “O uso de máscara ainda é recomendado em locais fechados e com aglomeração para esses grupos”, orienta a infectologista.

Dentro de casa, os principais focos de atenção estão na cozinha e no banheiro. A higienização das mãos ao preparar alimentos, a limpeza frequente das bancadas, tábuas, pias e vasos sanitários são ações indispensáveis para manter os microrganismos sob controle.

Se por um lado a falta de higiene é perigosa, o uso excessivo de produtos também traz riscos. “A mistura de produtos de limpeza ou o uso indiscriminado de antibacterianos pode causar irritações, intoxicações e até contribuir para o surgimento de superbactérias”, alerta Dra. Michelle.

Além disso, estudos apontam que o uso contínuo de desinfetantes potentes pode eliminar bactérias benéficas que ajudam a manter o equilíbrio natural do ambiente e do corpo, podendo favorecer alergias e doenças autoimunes. Por esta razão, a infectologista enfatiza: “não é preciso obsessão com limpeza, mas sim rotina e cuidado nos pontos certos”.

Educação em saúde começa no básico — e nas escolas

Além da responsabilidade individual, a especialista ressalta a importância de políticas públicas e educação nas escolas. “Vivemos em um país onde milhares de pessoas ainda não têm acesso a saneamento básico e água potável. Não basta apenas orientar, é preciso garantir condições mínimas para a população”.

Incluir práticas de higiene no currículo escolar e ampliar campanhas de conscientização pública são caminhos para mudar o cenário a longo prazo.