O peso do silêncio: quando esconder o Alzheimer vira um fardo emocional

Na novela “Família é Tudo”, da TV Globo, a personagem Frida descobre os primeiros sinais do Alzheimer, mas pede segredo a um dos filhos. A omissão — motivada por proteção ou medo — joga luz sobre um tema real que atinge milhões de brasileiros: o impacto emocional do diagnóstico da doença tanto para quem a recebe quanto para os familiares.
Segundo a psicóloga e neuropsicopedagoga Roberta Passos, o silêncio familiar pode transformar o diagnóstico em um fardo ainda maior. “Receber a notícia já é difícil. Mas lidar com o segredo, com a omissão ou até mesmo com a negação dos sintomas agrava o sofrimento de todos os envolvidos”, explica.
Estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas vivam com Alzheimer no Brasil, segundo a Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer). E esse número tende a crescer com o envelhecimento da população. Ainda assim, o diagnóstico precoce continua cercado de tabus, vergonha e medo.
“É comum que familiares optem por esconder o diagnóstico na tentativa de proteger o paciente ou evitar julgamentos. Mas isso atrasa o início de cuidados adequados e pode isolar ainda mais quem está doente”, afirma Roberta.
A especialista alerta ainda para o impacto emocional em filhos e netos que percebem as mudanças comportamentais, mas não recebem uma explicação clara. “A falta de diálogo pode gerar ansiedade, culpa e conflitos familiares.”
Para Roberta, é essencial que o diagnóstico venha acompanhado de acolhimento psicológico e estratégias de comunicação saudáveis. “Informar, acolher e conversar abertamente são caminhos fundamentais para que a família se una em torno dos cuidados — e não se fragmente pelo medo”, conclui.
Roberta Passos atua há mais de 14 anos como Psicóloga Clínica e Psicopedagoga, com especialização em Neuropsicologia pelo IPQ-FMUSP. Atende crianças, adolescentes e adultos em diversas queixas, entre elas dificuldades de aprendizagem.