O trabalho é a melhor forma de ressocialização de acordo com Roberta Negrini, figura influente nos setores da moda, inclusão social e negócios de impacto e fundadora do Movimento Eu Visto o Bem, que busca ressignificar a indústria têxtil, levando sustentabilidade e buscando oportunidades de trabalho e reintegração para mulheres em situação de vulnerabilidade.

Segundo a executiva, mais de 600 mulheres já foram ressocializadas pelo Movimento. “Hoje a gente tem quatro núcleos produtivos. São quatro penitenciárias e um galpão aqui fora, que também é o nosso escritório, onde a gente recebe essas meninas do semi-aberto, essas meninas que estão para ganhar liberdade. Os demais núcleos estão dentro de penitenciárias, três aqui em São Paulo e uma em Votorantim, que estamos inaugurando em parceria com o Instituto Toyota”, explica.

Para Roberta, é preciso inicialmente entender o que em boa parte das vezes leva uma mulher a fazer parte da população carcerária feminina, grupo que ela acompanha há sete anos e sobre o qual tem expertise. “Sabemos que normalmente são mulheres entre 18 e 35 anos, mães de, em média, quatro filhos, que engravidaram cedo, não têm escolaridade e tampouco oportunidade de ter um trabalho. São presas fáceis para o tráfico de drogas. Não têm periculosidade, mas atuam como parte importante nesse ecossistema”, avalia.

A fundadora do Movimento Eu Visto o Bem afirma que são mulheres que, quando encarceradas, costumam deixar os filhos à mercê do tráfico. “Porque essas crianças perdem a única oportunidade da vida de serem pessoas do bem. E aí, a gente encarcera essa mulher por anos sem fazer absolutamente nada. Apenas com um trato completamente desumano. Elas são tratadas como bichos, amontoadas em celas, e a gente tem a grande expectativa que essa pessoa saia de lá reformada, o que é a antítese disso”, diz.

Roberta acredita que, neste cenário, temas como as “saidinhas prisionais” são apenas uma cortina de fumaça na origem do problema. “Quando uma mulher ganha o direito à saidinha, significa dizer que ela saiu do regime fechado e está há poucos meses de ganhar liberdade. Ou seja, essa mulher – ou homem – vai estar livre para cometer qualquer delito se  não tiver sido realmente “reformada”. Por isso eu trago muito fortemente a ideia de que com o emprego a gente consegue ressocializar. Na verdade, acho que no sistema penitenciário são duas vertentes fortes: o trabalho e a espiritualização. Esses dois eixos são eixos potentes para fazer com que as pessoas voltem às suas origens iniciais, aprendam que existem formas de sobreviver ou viver de maneira digna, decente e economicamente ativa”, analisa.

No caso do Eu Visto o Bem, 87% das pessoas que já estão no Movimento há um ano não voltam a cometer delitos, segundo Roberta. “Isso comprova que o emprego é um grande programa social e de ressocialização. Temos pessoas que recebem a oportunidade e elas não abrem mão dela. Elas têm, inclusive, uma produtividade acima da média de um colaborador que não é do sistema porque têm medo de perder o emprego e são muito gratas”, diz.

Outro ponto relevante, segundo a executiva, é que a grande maioria dessas mulheres destinam o valor que recebem para estimular a educação dos filhos. “Elas não querem que cometam os mesmos delitos que cometeram.  Já vemos, por exemplo, filhos de egressos dentro de faculdades. Recentemente, o filho de um dos nossos egressos passou na USP de São Carlos. Por quê? Porque durante os últimos três, quatro anos, ele manteve essa menina estudando sem que ela tivesse que trabalhar”, conta. “E a gente só teve um caso de uma mulher que não voltou após a saidinha. Todas as outras voltaram porque elas já foram impactadas pela possibilidade de se tornarem pessoas diferentes”.

O Movimento Eu Visto o Bem emprega hoje 95 colaboradores que estão no sistema penitenciário, seja ele sistema fechado ou aberto. “As empresas que apoiam o nosso trabalho buscam mais propósitos para os seus produtos. Então, usam o budget para curar uma dor da sociedade. Hoje, portanto, a gente se considera uma empresa curativa, ou seja, atacamos um problema social com sucesso, comprovando que é possível a ressocialização”, finaliza.

Sobre Roberta Negrini

Roberta Negrini é figura influente nos setores da moda, inclusão social e negócios de impacto. Com uma sólida trajetória como CEO e fundadora do Movimento Eu Visto o Bem, ela se destaca enquanto líder comprometida com a ressignificação da indústria têxtil, buscando oportunidades de trabalho e reintegração para mulheres em situação de vulnerabilidade. Sua experiência abrange a inovação na moda e na indústria de beleza e a promoção ativa da inclusão e diversidade, evidenciada por seu papel como vice-presidente no Sport Club do Recife. A especialista é reconhecida por seu pioneirismo em práticas de negócios sustentáveis e seu empenho em promover mudanças significativas na sociedade por meio de ações e projetos em prol da inclusão social e econômica.

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