Boreout: o tédio profissional que ameaça especialmente a Geração Z no mercado de trabalho

Enquanto muito se fala sobre o burnout – esgotamento causado pelo excesso de demandas -, um outro fenômeno começa a ganhar espaço nas conversas sobre o futuro do trabalho: o boreout, conhecido como a “síndrome do tédio extremo”. E, ao contrário do que muitos imaginam, ele não atinge profissionais sobrecarregados, mas sim os que vivem o oposto disso: falta de tarefas significativas, ausência de desafios e, com o tempo, um profundo desengajamento.
Segundo a consultoria global Gallup, sete em cada dez brasileiros estão desengajados no trabalho. Esse dado reforça um cenário preocupante, em que o boreout pode se manifestar de forma silenciosa, afetando a saúde mental e emocional dos colaboradores, o clima organizacional e, consequentemente, os resultados das empresas.
Para Dado Schneider, especialista nas Gerações Z e Alpha, o debate sobre o tema é urgente – especialmente quando se observa a chegada da Geração Z ao mercado de trabalho. “O tédio profissional tende a impactar ainda mais os jovens dessa geração, que estão entrando com força nas organizações. Trata-se de uma geração que busca intenção, desafios constantes e resultados rápidos, diferente do que muitos pensam. Quando esses elementos não estão presentes, o risco de desmotivação crônica aumenta”.
Essa nova geração, cada vez mais conectada, imediatista e empreendedora, muitas vezes se vê presa em estruturas tradicionais e engessadas – um terreno fértil para a insatisfação e a perda de sentido profissional. Segundo o especialista, grande parte dos jovens da Geração Z não busca mais “construir uma carreira” nos moldes antigos, mas sim empreender, inovar e experimentar. E quando se deparam com tarefas repetitivas, pouca autonomia e falta de perspectiva de crescimento, a frustração se instala.
Eliane Aere, presidente da ABRH-SP, destaca que o tema precisa entrar de vez na pauta das lideranças. “Durante muito tempo, associamos produtividade apenas à quantidade de entregas ou ao número de horas trabalhadas. Mas produtividade real vem do engajamento genuíno, da conexão com um propósito e do sentimento de pertencimento. O boreout nos mostra que o vazio também tem custo e ele pode ser alto”, afirma.
Para a presidente da associação, iniciativas que promovam a escuta ativa, o redesenho de cargos, a oferta de desafios coerentes e uma cultura organizacional mais aberta à inovação e à cocriação são fundamentais para combater o boreout, especialmente em um momento de transformação tão profundo no mundo do trabalho.