Impossibilitados de lançar, presencialmente, um livro físico, em função da pandemia do novo coronavírus, livro chega às plataformas digitais e já é sucesso de vendas

Um livro escrito a quatro mãos. Pode parecer estranho, mas a ousadia resultou em “ O Homem que comia macumba”, dos escritores Deborah Simões e David Massena, lançado hoje pela Amazon, em formato digital.

“Planejamos lançar o livro físico em 2020, mas em função da pandemia, optamos pelo formato digital para não deixar o ano passar em branco. ”, diz David Massena.

Todo o processo nasceu em um curso de roteiros para teledramaturgia ministrado por Massena e, a partir do argumento e dos personagens desenvolvidos pela aluna Deborah, a trama foi tomando forma com o objetivo de uma série em 13 episódios, mas acabou virando livro. Cafés, almoços, encontros rápidos e, a cada encontro, um novo  ingrediente era encaixado na trama.

Perguntados sobre o desafio da escrita conjunta, Massena foi categórico em dizer : “Foi um desafio, sim, mas o processo de escrever e de ler o outro nos leva a um lugar da escrita mais sensível. E foi fluido. Um processo natural. Não nos cobramos prazos e levamos dois anos construindo o texto. Muitas reescritas e também cortes quando invadíamos os espaços do leitor.”

Amigos e agora parceiros na escrita, Deborah e David criaram o Projeto Chopp com Letras que aconteceu por dois anos consecutivos no tradicional Bar América, o mais antigo de Nova Friburgo, na região serrana do Rio. O Projeto que levou literatura para as mesas do bar ganhou o Prêmio HeloneidaStudartde Cultura em 2018, por indicação do deputado à época Wanderson Nogueira e promoveu, em 2018, o Concurso de Contos – Prêmio Marcelo Moutinho.

Ambos têm fortes vínculos com a literatura. Ela é Mestre em Estudos da Literatura pela UFF, mediadora pedagógica do curso de Letras-UFF do CEDERJ e professora da área de Língua Portuguesa em escolas da rede particular. Já conquistou prêmios literários e tem atuação em curadorias de festas literárias e eventos na área. Ele, jornalista, roteirista, dramaturgo  e autor de livros memorialistas e também dedica-se à literatura infantojuvenil. Este é seu primeiro romance adulto.

Deborah conta que foram muitos áudios, mensagens, revisões, até que chegaram ao senso de que o livro estava pronto. Com 67 páginas, apresentação do escritor Marcelo Moutinho e capa a partir da fotografia de Osmar Castro, o livro conta, sob a voz de Vanzinho, a vida de Andelvan, um patriarca perdido em cada cômodo da sua casa, construída de silêncios, assim como a cidade de Amparo, marcada pelo preconceito que habita as esquinas de moradores. A luta para manter – em vão – uma família já fragmentada, as paredes intactas, é aquilo que guia as lacunas de cada personagem, através de uma linguagem às vezes poética, às vezes brutal. “Nenhum minuto guarda os segundos reais, nenhuma história pode ser reencontrada”, são palavras de um narrador que busca, nas linhas escritas, poupar o próprio passado, o passado de lugar nenhum.

Toda a trama nasce numa pequena cidade do interior. Qualquer semelhança é mera coincidência. O nome do lugar é Amparo. Uma antítese, já que a cidade não é nada acolhedora e, como escreveu Freud, em sua obra “O mal-estar na civilização”, os homens não são criaturas gentis. E o livro mostra que o conflito tem papel relevante na produção, construção e apropriação cotidiana das cidades. As cidades não são generosas para todos.

“Quando estávamos construindo a narrativa, queríamos mostrar como a memória é capaz de explicar nossas escolhas – uma memória que é sempre falha, porque não consegue trazer o outro à tona. O outro existe nas lembranças a partir das imagens que conferimos a ele.  E Vanzinho, o narrador, tenta resgatar essas imagens do pai, da mãe, da irmã, com a justificativa de registrar o passado da família. Mas não é isso que ele escreve. Lemos, na verdade, o resgate dele mesmo. Claro, as relações familiares – e o que há por trás dessas relações – ficam evidenciadas, mas sob olhar do personagem. Joana, por exemplo, questiona o motivo de o irmão escrever sobre a própria família e afirma “éramos só patéticos”. No fundo, quem não é?” – Diz Deborah Simões.

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