Quando declarou: “Eu sou um montanhês!”, um dos maiores artistas plásticos do Brasil, no século XX, Alberto da Veiga Guignard (Nova Friburgo-RJ- 1896 – Belo Horizonte -MG -1962), não poderia supor que nas mesmas montanhas em que nascera, um menino pobre, que olhava do alto a cidade que se alargava, sonhava levar a sua arte a lugares distantes. Tão distantes quanto à possibilidade de realizar seus sonhos. Ele conseguiu!

Capa do 1º Compacto. / Reprodução

O trem cortava a cidade e sinalizava o vai e vem de gente que vinha de fora e se encantava com o vale incrustado nas montanhas, outros tantos partiam em busca de novos horizontes. O menino a tudo assistia.

Ele nasceu num dia 28 de novembro de 1941, pelas mãos de sua tia, a cigana parteira Porfíria, sob os olhares cuidadosos de outra tia cigana de nome Júlia, enquanto na sala de casa o grupo regional de seu pai, “Arame Farpado” – em referência ao gênero musical choro que não pode atravessar -, fazia seus ensaios.

O menino nascido Uday Vellozo, terceiro filho dos quinze da Dona Maria da Silva e doSr. José Gomes Vellozo – funcionário da Estrada de Ferro Leopoldina, músico multifacetado, que tocava acordeon, violão sete cordas, viola, cavaco e pandeiro-, desde pequeno apreciava a música e já ensaiava cantar, em cima da mesa da casa, sob os olhares das tias, e adorava a voz da sua mãe, que cantava o dia inteiro sucessos que chegavam pelo rádio.

Dona Maria era mãe de leite de quase todo o bairro, na época chamado de Parque Boa Vista, depois Perissê, em Nova Friburgo, na região serrana do Rio. Uday, desde pequeno, com seus irmãos, levava as garrafas de leite para as mães que tinham seus bebês necessitando do alimento. Dona Maria não perdia de vista os filhos de leite que tinha e nunca se furtou a ajudar a alimentar qualquer criança. Era grata por esta benção!

Na casa simples, seu José escreveu na fachada, no alto da cumeeira: Lar São Jorge, santo de quem era devoto e a quem pedia constante proteção à sua família. Este sempre foi o maior valor para Sr. José e Dona Maria: a família. Sem nunca deixar de lado a fé e a esperança!

Uday e seus irmãos Ubiracy; Ubirahy; Urandyr; Jorge – o Jota; Joacy; Jociney – o Ney;Urneicy; Oldacy; Udeny; Jorcely; Nicéa; Joacira; Joaracy e Ana Carolina cresceram em ambiente musical. Era a música que os alimentava, fortalecendo e renovando as esperanças numa vida melhor.