Obra da jornalista Bárbara Pereira discute feminismo a partir do depoimento de grandes passistas

Figuras de destaque no Carnaval, as passistas se tornaram símbolos das escolas de samba do País. Muitas delas fizeram carreira internacional, ganharam a mídia e o centro das atenções na Sapucaí e em outras avenidas pelo Brasil. Há, contraditoriamente, uma espécie de ofuscamento do feminino num universo em que elas aparecem como importantes elementos visuais das variadas composições cênicas existentes num desfile. O debate sobre que lugar essas dançarinas ocupam na cultura brasileira é aprofundado na nova obra do Carnavalize, único selo especializado em Carnaval no mercado editorial brasileiro, “Pé, cadeira e cadência: trajetórias e memórias de passistas do carnaval carioca”.

A pesquisa é resultado da tese de doutorado em Memória Social da jornalista Bárbara Pereira, que ao longo dos últimos anos entrevistou diversas passistas de diferentes idades e gerações. Investigando o surgimento do termo “passista” e a forma de dançar o samba, surgem as histórias de figuras emblemáticas como Paula do Salgueiro e Maria Lata D’Água, chegando até artistas mais recentes como Nilce Fran, Aldione Sena e Soninha Capeta.

A obra percorre ainda os avanços e os desafios de ser mulher na folia carioca em seus diferentes contextos históricos, assim como as permanências e alternâncias na dança do samba como manifestação cultural. Ao longo dos anos, as passistas femininas se posicionaram como corpos resistentes e conscientes de suas próprias histórias.

O prefácio do livro é de autoria do jornalista especialista em escolas de samba Aydano André Motta, que revela uma história curiosa envolvendo uma das homenageadas do livro, a sambista Soninha Capeta, que por anos brilhou como rainha de bateria na Beija-Flor. A “orelha” é assinada por Rafaela Bastos, ex-musa da Mangueira e atual presidente da Fundação João Goulart. Com lugar de fala sobre o tema, a sambista afirma: “É um livro que documenta e resgata a reflexão sobre o que é o sambar no pé a partir de quem samba. Ao passo que revela o segmento passista de forma transgressora, nos presenteia também com um importante registro dessa ala que nada mais é do que a expressão autêntica da dança do samba. Bárbara Pereira, literalmente imersa, se entrega às provocações, se coloca diante de várias percepções e nos brinda com um recorte histórico do que é ser passista”.

O lançamento do livro ocorre nesta quarta-feira, 23, às 19h, no Baródromo, bar temático do Carnaval carioca no Maracanã – Rio.